12.5.14

Anti-património na Serra da Portela: crónica de uma sucessão de acções atentatórias do património natural e cultural



A região de Sicó é pródiga em muitos aspectos, no bom e no mau sentido. Infelizmente os maus aspectos sobrepõem-se aos bons, o que me leva a ser cada vez mais incisivo na defesa do património desta extraordinária região. As ideias parvas têm muito sucessos por estas bandas, é a nossa triste sina.
Desta vez a história passa-se na Serra da Portela (Pousaflores), no Concelho de Ansião. Infelizmente é uma história já com algumas décadas e com vários episódios. Os protagonistas são os mesmíssimos de sempre. Ainda na década de 80, alguém teve a ideia peregrina de mandar para o topo da Serra da Portela uma máquina de rastos, que basicamente andou a lavrar nos lapiás, um atentado hediondo ao património regional. Posteriormente plantaram-se árvores, não das autóctones, mas de outro tipo. O lóbi da caça foi aqui preponderante. Depois, abriu-se uma estrada que mais parece uma pista de aterragem de avionetas, com ligação directa ao edifício dos caçadores.
Mais alguns episódios e eis que há poucos meses surgiu mais uma novidade. Já tinha visto, ao longe, que algo se passava por ali, no entanto, e por falta de tempo, apenas agora tive a possibilidade de me deslocar ao local, de bicicleta e máquina fotográfica a postos.
Não pensei que o que se passava ali fosse tão mau, mas afinal é mesmo assim, sem tirar nem pôr. Onde há poucos meses existia um pequeno e belo caminho, que se inicia em Pousaflores e segue pela serra acima, existe agora um estradão, populado por 12 novas cruzes, as quais me parece que terão o destino das últimas, ou seja vandalizadas.
Apesar de não achar graça, não ficaria incomodado se tivessem (re)colocado apenas as cruzes, de forma a repor aquelas que foram colocadas há vários anos atrás. No entanto, tal não aconteceu. Afinal surgiu uma ideia mais catita, rasgou-se a vertente Sul da Serra da Portela, destruindo o belo caminho e criando um estradão, o qual foi enfeitado, pois claro, com carradas de brita. Degradou-se o património, afectou-se negativamente a paisagem e criaram-se vários problemas, os quais irão afectar ano após ano aquele local. Alguns já se iniciaram com a chuva, pois a bela da erosão já começou a espalhar a brita, através de belos regos escavados pela água da chuva. Ano após ano será necessário voltar a espalhar brita e mais brita, que nem circo das pedreiras.
Os taludes também já sofrem, pois as máquinas instabilizaram extensas áreas. Colocaram-se tubos que ficam imensamente bonitos, melhor ainda quando a chuva os destapar mais.
O antigo caminho, agora estradão, terá uma grande importância, pois as provas de jipes irão adorar começar a trepar pela serra acima, criando ainda mais erosão. As curvas cegas são o expoente da genialidade, de tal forma que já alguns jipes patinaram por ali.
É a lógica circense do costume, a qual irei indagar se efectivamente foi legal, pois é precisa uma autorização para este tipo de espectáculos, especialmente quando o carvalho cerquinho perdeu algumas dezenas de irmãos. E pensava eu que os lapiás e o carvalho cerquinho eram protegidos, que aquela área fazia parte da Rede Natura 2000. Mas devo ser eu que estou enganado...
A Serra da Portela já foi violada demasiadas vezes. Na vertente cultural, primeiro lembraram-se de chamar esta Serra por Monte da Ovelha, mas depois de ali erigirem uma pequena capela, acharam que seria mais bonito chamar a mesma por Anjo da Guarda. Imagine-se, contudo, que esta serra tem um único topónimo, ou seja Portela, Serra da Portela. Na vertente natural, é tal como já atrás referi. E agora, o que se segue?




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