25.2.14

Memorial do Hotel


Este é um comentário daqueles que incomoda bastante, no entanto é um comentário que será efectuado, como regra, de forma intelectualmente honesta e à luz de factos concretos, juntando eu algumas questões que julgo pertinentes. No ano onde o mais do que polémico projecto de hotel para a Serra de Alvaiázere será chumbado, impõe-se uma questão sobre outro projecto de hotel, esse nada polémico, embora omitido pelas entidades públicas.
Certo dia, um investidor privado entrou em contacto comigo através da plataforma "azinheiragate", de modo a solicitar ajuda no desenvolvimento de um projecto relacionado com a construção de um hotel, neste caso enquadrado no turismo rural. Este facto ocorreu em 2010.
Cedo alertei para o facto de tendo em conta que o projecto seria para desenvolver em Alvaiázere, este poderia ter dificuldades "inesperadas", tendo em conta o ecossistema político-empresarial ali existente e que se estende por toda a região. Para um investidor privado isto pode revelar-se como algo altamente castrador no desenvolvimento de um projecto. Lembrei a este investidor que em 2009 eu tinha tentado abrir uma empresa ligada ao turismo e que tinha tido sérios entraves, os quais me tinham levado à desistência/suspensão do projecto.
Pedi também para este investidor não revelar a ninguém que eu o estava a aconselhar (gratuitamente), pois se certas pessoas o soubessem, poderiam mostrar uma face menos favorável perante este investidor, quando confrontadas com a "amarga" novidade, já que eu era personna non grata para certos interesses. A minha vontade foi sabiamente respeitada.
O projecto foi então apresentado à Câmara Municipal de Alvaiázere, sendo este situado na freguesia de Almoster. A respectiva entidade recebeu o projecto e disse ao investidor para avançar, tendo o projecto sido endereçado ao Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, pois este estava em área de Rede Natura 2000.
Confesso que fiquei contente com os avanços e com o projecto, tendo a honra de ter tido a oportunidade de ver o projecto, o qual tinha tudo para avançar.
Mas como não há bela sem senão, os entraves começaram. Em Março de 2011, e já depois da Câmara Municipal de Alvaiázere ter, alegadamente, dito ao investidor que as candidaturas abririam (desde Setembro de 2010), eis que a Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó comunica ao investidor que não estava prevista a abertura de candidaturas a projectos de privados para projectos de turismo de natureza, já que, alegadamente, não haveria dotação financeira para este tipo de projectos. Tudo isto já com o projecto de arquitectura aprovado. Partindo do pressuposto que o investidor não mente, isto é curioso, no mínimo. Diga-se que nunca tive a mínima dúvida sobre a seriedade do investidor.
Ora, isto levantou-me dúvidas, em primeiro lugar porque é algo que em situação normal não deveria acontecer. Depois fiquei surpreendido, na medida em que o autarca Paulo Morgado, que mediou o processo tem competências a nível de autarquia e também competências a nível da Associação Terras de Sicó, o que me leva  a várias questões. Será que não era do conhecimento de Paulo Morgado, autarca, que não haveria fundos comunitários para aquele projecto? Se não era, como foi possível o facto, já que precisamente nessa altura o mesmo estava a lidar com o processo do polémico hotel na Serra de Alvaiázere, conhecendo profundamente esta pasta? Como foi possível este acarinhar tanto o segundo projecto referido, com tanta publicidade, e nenhuma referência do mesmo, perante a imprensa local e regional, ao projecto sobre o qual este comentário incide? Que jogo político foi este, que deu tanta atenção a um projecto e pouco atenção a um outro?
Como é que foi possível perder um investimento destes, num projecto já aprovado? Porque é que este investimento nunca foi publicitado e "levado ao colo", como tem sido o mais do que polémico projecto de hotel para a Serra de Alvaiázere? Então, há 4 ou 5 milhões de fundos comunitários para um projecto ainda sem aprovação, sem cabimento em sede de PDM e não há um tostão para um projecto aprovado?
Como é que se elabora um projecto para uma área protegida, assumidamente sem know-how, passando por cima de questões essenciais, procurando depois um investidor que tenha apenas um milhão de euros? Isto ao mesmo tempo que se "manda embora" um outro investidor, já com um projecto, não polémico, já aprovado? Falta explicar esta dicotomia, sabendo que o processo deverá ser explanado por Paulo Morgado, pois, mais uma vez, este além de autarca, e por isso conhecedor da situação, é também um dos responsáveis políticos pela Terras de Sicó, tendo evidentes responsabilidades em termos de gestão em ambas as entidades. Naturalmente que este tem algum know-how, pois este em 2009 tornou-se oficial e publicamente, empresário no domínio do turismo rural (facto), daí melhor do que alguns dever saber acerca desta questão. Na minha opinião houve aqui uma péssima gestão desta questão, sendo o meu intuito saber o porquê das coisas terem seguido um rumo desastroso, já que, na minha opinião, é do interesse público o esclarecimento cabal deste caso.
Até hoje mantive esta questão, do hotel em Almoster, em off, no entanto não aguardo mais pela sua obrigatória divulgação, já que este meu comentário é simplesmente serviço público. Para os mais curiosos, o investidor em causa, depois de desistir do projecto, decidiu investir num outro concelho, mais a Sul e já fora da região. Importa esclarecer esta questão, pois há aqui uma história que tem muito que se lhe diga. Será que este investimento não seria importante para Almoster, Alvaiázere e para a própria região de Sicó?
Os factos são estes e estão em cima da mesa, agora há que debater os mesmos sem receios, sem demagogia e de forma honesta e construtiva. Se a imprensa local ou regional quiser tratar a questão de forma jornalística, estarei à sua disposição, enquanto fonte de informação credível e idónea. Não tenham receio em confrontar as pessoas, pois o confrontar com os factos, mesmo que incómodos, é sinal de democracia.

21.2.14

6 anos de Azinheiragate: a perspectiva ressabiada


Nos últimos 6 anos foram várias as "indigestões" causadas pela acção do azinheiragate em prol do património, daí eu me ter lembrado em comentar especificamente esta questão num mês tão especial.
Mais especialmente nos concelhos de Alvaiázere, Ansião, Pombal e Penela, os comentários do azinheiragate, sobre temas "delicados" foram causa de muitas "azias", seja em termos políticos, empresarial ou simpesmente em termos individuais. O facto do azinheiragate dar destaque a situações incómodas é sinal de preocupação por parte de autarcas, empresas e cidadãos, que cometem ilegalidades relacionadas com o património natural ou construído. Faz este mês 1 ano que aludi ao expoente máximo do ressabianismo puro e duro, algo que vale mesmo a pena recuperar (leiam com atenção aquela preciosidade escrita por aprendizes de democrata, no fórum do Jornal O Alvaiazarense, na primeira imagem, logo à esquerda - que teve uma resposta fabulosa do Director, do lado direito e, obviamente o meu direito de resposta, na imagem seguinte).
Como o azinheiragate tem "ouvidos em muitas paredes", cedo começou a ter algum feedback de reacções, mesmo que quem as tivesse nunca pensasse que estas chegassem aos ouvidos do azinheiragate. Expressões como "ele é muito ácido" são comuns, curiosamente esta última até veio do lado de Penela, já há alguns anos, através de uma personagem entretanto com problemas na justiça. Oiço muitas outras expressões, algumas bem mais fortes, como são aquelas que vêm dos lados de Alvaiázere. Ansião e Pombal não são excepção, sendo que em Pombal, alguns comentários do azinheiragate já foram tema de acesas conversas em reuniões institucionais, onde os ânimos estavam algo exaltados. Sobre Soure e Condeixa, não tenho dados, pois, para já, os meus ouvidos andam afastados.
Mas as reacções não são apenas deste âmbito, pois por exemplo em Alvaiázere estas já chegaram à perseguição, pura e dura, aquando da minha deslocação a Alvaiázere para uma entrevista com a revista Visão, em 2011. Nessa altura fui perseguido por uma viatura pública, mas felizmente que durou pouco, já que me apercebi e parei, fazendo com que a mesma viatura, confrontada com a sua descoberta, entrasse por um caminho florestal de modo a tentar fingir que não havia perseguição.
Outro exemplo, também em Alvaiázere, teve a ver com uma reacção pouco ortodoxa, já que, ao ir monitorizar uma situação na Serra de Alvaiázere, e ao ser detectado por um "vigia", este foi chamar alguns "gorilas" para me tentarem fazer umas massagens. Felizmente que ia precavido e que os mesmos, ao chegarem perto de mim, foram dissuadidos de forma eficaz. Nesse dia tive alguma sorte, pois eram 4 matulões que vinham ao meu encontro.
Ou então uma outra, que, satirizando, até deveria ser pecado, pois numa viagem a Fátima, num autocarro cheio de idosos, uma personagem, daquelas que está na primeira fila da missa, desenvolveu um discurso incitando ao ódio à minha pessoa. Palavras para quê...
Já no domínio empresarial, já tive algumas reacções, embora normais. Estas passaram apenas por um mal estar perante a minha presença, algo que é aceitável em democracia. Afinal o azinheiragate, através de denúncias, públicas e assinadas, já fez com que surgissem multas na ordem das centenas de milhar de euros. Como apontamento curioso é o facto de haver por aí um ressabiado que diz que eu causei 2 ou 3 milhões de prejuízos a uma empresa que passou por cima de regras básicas de ordenamento do território. Esse ressabiado disse há algum tempo que eu teria de pagar de alguma forma, imagine-se...
Ou então no domínio web, pois já fui alvo de ameaças por parte de uma pessoa identificada e por parte de pessoas não identificadas. Ainda neste domínio, algo mais bizarro, uma usurpação de identidade com vista à patética armadilha. Passando a barreira do bizarro, imaginem que até um dos meus mails costumam colocar nas mailing lists de sites para adultos (é uma antiga técnica utilizada para tentar descredibilizar certos alvos incómodos). Isto, novamente a Sul de Ansião...
Vale tudo, mas mesmo tudo, para me tentar calar e impedir de ter uma acção eficaz na defesa do património da região de Sicó. Desenganem-se meus caros!
Felizmente que todos estes casos representam uma minoria, a qual, no entanto, deve ser apontada, já que esta mesma minoria tem um papel determinante na degradação e destruição do património da região de Sicó. Para estes eu sei demais, daí as várias tentativas de silenciamento e os constantes ataques e armadilhas. A estes e só a estes eu digo apenas, conformem-se, pois o azinheiragate veio para ficar, não é nenhuma moda!
Aos outros agradeço os elogios à acção do azinheiragate nos últimos 6 anos, a partilha de conhecimento, as amizades e o usufruir do extraordinário património desta região, muito do qual ainda refém de interesses predatórios. Urge contrariar este cenário e valorizar todo este imenso património natural e cultural!
Para finalizar, lembro que tudo o que o azinheiragate conseguiu, inclusivamente o reconhecimento, se deve "apenas e só" a uma postura séria, honesta e construtiva, embora naturalmente incisiva e frontal, por parte do autor do azinheiragate. Esta postura baseia-se nos factos, coadjuvados com opiniões devidamente fundamentadas e com aquela coisa chata que é o conhecimento (é poder...). Sem ofender, sem difamar, sem ameaçar e sem levar as coisas para o lado pessoal, conseguem-se grandes vitórias perante aqueles que incitam ao ódio para com a minha pessoa, ou então que afirmam em pleno discurso eleitoral, de forma implícita, que eu sou "gente muito pequena". Tudo por um motivo simples, não têm argumentação factual, que faça frente aos factos com os quais eu os confronto de forma legal, transparente e concreta. Confesso que a expressão "gente muito pequena" até me sabe a elogio, pois é sinal que eu sou o maior e mais forte adversário político de todos os adversários políticos.
Continuarei a fazer frente aqueles que não sabem ser democratas, que têm tiques totalitários, com o síndrome do lápis azul e que, quando confrontados com a crítica e com os factos ficam ofendidos, tentam abafar a crítica e dizem que vão resolver a coisa à maneira deles...

17.2.14

A demonização da Natureza



Quem trabalha em prol do património natural depara-se naturalmente com várias dificuldades, uma delas, e talvez a principal é o que eu denomino por "demonização da natureza". Esta demonização é utilizada como ferramenta por parte de interesses predatórios que, moldando as mentalidades através de estereótipos, conseguem com que muitas pessoas pensem a Natureza como algo perigoso, por vezes feio e muitas vezes descartável, abrindo assim caminho para a degradação ou destruição da mesma.
Começando pelo mais fácil, todos nós nos lembramos daquele gesto de quando, em tempos, vimos a passar um bicho no chão, fomos ensinados quase que a esborrachar o dito animal, seja minhoca, lagarta ou cobra. Também nos lembramos daquele frase muitas vezes utilizada em pequenos, onde ao mexermos a terra com as mãos, alguém disse que era um horror, que porcalhice, quando afinal esse gesto, de mexer na terra com as mãos, tens uma importância crucial. Ou então, ao olhar para um terreno, com algum mato, e dizermos que é perigoso ir para ali, que nos sujamos ou podemos encarar um animal selvagem, o qual até se assusta mais do que nós quando nos deparamos com ele.
Eu digo que tudo isto é pura parvoíce, que continuar a ensinar estes estereótipos às crianças é um erro crasso, o qual tem reflexos tremendamente negativos perante a sociedade.
Pegando na primeira foto, este é um exemplo perfeito, onde este tipo de mentalidade impera. Naquela cavidade foram encontrados resíduos de todo o tipo, já que alguém o mandou para lá. Isso aconteceu talvez por alguém ter pensado que aquele "buraco" era uma coisa feia e que ao mandar para lá lixo ele ficava esquecido, longe da vista. Felizmente que não ficou e que o mesmo foi limpo por espeleólogos (Grupo Protecção Sicó) e elementos da SEPNA. Isto aconteceu porque aquele "buraco" não é uma coisa feia, muito pelo contrário, é sim algo de belo, algo onde as coisas se vêm de um outro prisma, de baixo para cima. Este último ponto é crucial, olhar de baixo para cima, já que estamos mal habituados, a olhar sempre de cima para baixo como se fôssemos superiores a tudo o mais.
O curioso é que quase tudo o que é mais importante vem de baixo de nós, precisamente aquele "por baixo" que teimamos em ignorar. Curioso também é que o que está por baixo de nós é belo, podendo eu demonstrar isso da mais variadas formas. Preferi apenas mostrar uma foto que, quanto a mim, mostra esta beleza, utilizando para isso uma das centenas de fotografias que tirei num museu de história natural, neste caso o de Viena de Áustria. Quem disse que as rochas/minerais eram feios?



Há que mudar mentalidades e isso não é fácil, eu sei, pois é preciso tempo para o conseguir fazer. No entanto, e pela minha experiência, sei que isso além de ser possível, tem resultados extraordinários, com imensos benefícios para as comunidades. Uma comunidade informada consegue mudar, para melhor, muita coisa, a começar pelo local onde vive. Obviamente que o facto de existirem pessoas informadas é uma maçada para os interesses predatórios, mas não tenham pena deles, tal como eu não tenho.
O azinheiragate dedica-se à mudança de mentalidades com vista à defesa, protecção e valorização do património da região de Sicó. Por vezes é preciso ser frontal e incisivo nessa defesa, pois há por aí alguns ressabiados que pensam que manter as pessoas na ignorância é o melhor caminho para que consigam os seus fins, o ganho financeiro e o benefício privado através do bem público, perdendo assim as comunidades e o seu património.
Lembro-me, em especial, de um destes ressabiados, que apesar de ser um rapazolas da cidade, tenta fazer passar a imagem de que é um homem do campo. Crise identitária meu caro?! Este rapazolas, mero tecnocrata, tem tido azar, pois há quem o consiga confrontar, quem o consiga meter no seu lugar e quem consiga perturbar gravemente a sua acção nociva perante um território muito valioso. 
Neste mês de aniversário do azinheiragate (6º), faço questão em sublinhar estes factos, pois infelizmente ainda há por aí gente maldosa que pensa que pode continuar impune e pensa que pode calar seja quem for, esquecendo-se que o azinheiragate é cada vez mais reconhecido pelo seu papel honesto, sério e construtivo em prol de toda uma região, Sicó!

13.2.14

Divulgar Alvaiázere: um projecto a acompanhar


Divulgar Alvaiázere é o nome de um projecto que, a meu ver, é muito meritório. Trata-se de uma ideia, surgida através de alguns alvaiazerenses, que visa divulgar um concelho muito peculiar e riquíssimo em termos patrimoniais. Trata-se de uma verdadeira lufada de ar fresco no panorama digital alvaiazerense. Isto numa realidade onde ainda há muito poucos anos o panorama digital alvaiazerense resumia-se apenas em 3 ou 4 blogues, muitas vezes guiados por gente sem nome e por discursos alicerçados em linguagem pouco correcta. E depois, claro, o azinheiragate, que recusa liminarmente linguagem ofensiva e discursos desonestos. Felizmente que o cenário mudou, para melhor, pois a "mercadoria estragada" já não faz parte do cardápio digital alvaiazerense. 
Desde o seu início que andava com a ideia de comentar este projecto em particular, no entanto, cedo aprendi que não é positivo comentar precocemente projectos deste género, sem que estes mostrem solidez. Já por uma vez comentei, precocemente, um projecto associativo no concelho de Ansião, algo que se mostrou errado, já que o tempo mostrou que uma coisa é uma boa ideia, outra é o seguimento dessa mesma ideia. No caso do Divulgar Alvaiázere já não há esse risco, pois mostrou solidez, seriedade e futuro. Espero sinceramente que este tenha futuro em Alvaiázere, coisa que por vezes é difícil, especialmente em projectos apartidários e distantes da política. Ou seja, recomendo vivamente que acompanhem o Divulgar Alvaiázere, pois há ali muito de bom para ver nos próximos tempos, seja a nível cultural, desportivo ou outros mais. Não falta dinamização e vontade em fazer mais e melhor, sinal que o caminho está bem traçado.
No mês em que o azinheiragate comemora os seus 6 anos, e já com 86000 visualizações, nada melhor do que falar precisamente de um bom exemplo no concelho que serviu inicialmente como ADN do azinheiragate, daí a alusão ao Divulgar Alvaiázere, um bom exemplo do bom que se faz por Alvaiázere. 
Ainda não decidi como serão os restantes comentários deste mês de Fevereiro, no 6º aniversário do azinheiragate, mas uma coisa vos prometo, à boa maneira do azinheiragate, pelo menos um dos comentários irá incomodar tremendamente interesses de uma oligarquia que pensa erroneamente que Alvaiázere é uma sua coutada. Nos próximos dias saberão em primeira mão, já que até agora tem sido um dos muitos segredos que tenho guardado numa "caixa de azinheira" inviolável. A divulgação deste segredo será puro serviço público ao serviço de uma sociedade que pretendo esclarecida!

9.2.14

É apenas uma questão de tempo...



É uma questão que já há vários anos me preocupa enquanto geógrafo físico e também enquanto cidadão. Penso que é a segunda vez que abordo aqui o tema da dinâmica de vertentes, tema este que é entendido como algo sem interesse pela maioria de vós, pelo menos até a vertente bater à porta, no sentido literal.
Em 2006, quando andava a palmilhar a Serra de Alvaiázere, durante o trabalho de campo da tese de mestrado, deparei-me com uma situação que me prendeu a atenção. Tratava-se de uma extensa área, situada a meia vertente (Sul) da Serra de Alvaiázere, a qual estava numa situação nada estável, estando bem à vista isso mesmo. Seja pelos enormes blocos calcários, seja por uma extensa cicatriz de deslizamento, fiquei bastante preocupado com aquela situação. Apesar de, na altura, já terem passado 3 anos da pertinente disciplina dinâmica de vertentes, durante a licenciatura, os olhos ainda estavam bem treinados para este tipo de situações.
Poucos meses depois, aquando de uma visita de um professor universitário, aproveitei para o levar lá e consegui também que Paulo Tito Delgado fosse também, de forma a constatar in loco esta ameaça. Ninguém ficou indiferente ao caso, nesse dia, tendo eu aproveitado para sugerir que a Câmara Municipal de Alvaiázere começasse a monitorizar esta situação, já que ela apresentava e apresenta ainda, um risco para a população situada mais abaixo, tal como a primeira fotografia mostra. Infelizmente nada se fez para acompanhar esta situação.
Não é certo quando é que a vertente se irá mover, ou mesmo os enormes blocos, pois isso pode acontecer independentemente um do outro. O certo é que isso irá acontecer mais tarde ou mais cedo, daí eu voltar a insistir num acompanhamento das entidades para isso credenciadas, nomeadamente pela Câmara Municipal de Alvaiázere, já que isso é a sua competência e responsabilidade em termos de protecção civil.
Quando surgiu novamente o projecto para o parque eólico da Serra de Alvaiázere, e sabendo que queriam colocar duas torres na proximidade daquela área, fiquei ainda mais preocupado, pois era intenção utilizar explosivos durante o processo de construção das sapatas, o que poderia ter consequências em termos de estabilidade de vertentes. Nessa altura voltei a abordar o caso, por escrito, alertando para a situação. Mais uma vez, nada se fez...
Soluções? Sim, havia e eu até coloquei em cima da mesa algumas. Uma delas foi a de celebrar protocolos com universidades, já que, na altura, eu apresentei 3 ideias para protocolos com 3 universidades portuguesas. Duas destas estavam receptivas, pois, através de contactos prévios, estas já tinham mostrado disponibilidade. A terceira também estaria, no entanto, e na altura, a proximidade ainda não era a indicada, portanto qualquer eventual protocolo não surgiria tão rápido como nos dois primeiros. E para que seriam estes protocolos? Simples, para várias coisas, todas elas ligadas à investigação, pois estabelecendo parcerias, rapidamente surgiriam estudantes interessados em investigar este e outros casos, a custo muito reduzido, quando comparado com aquele que acaba por resultar aquando da contratação de empresas do ramo. Até apresentei a ideia de criar um espaço para receber estes investigadores, através da reabilitação de uma antiga escola primária. Contudo nada disto interessou a Tito Morgado, algo que este nunca esclareceu cabalmente.
Finalizando, espero que aquela vertente se mantenha assim, quietinha, mas se isso não acontecer, eu estarei de consciência tranquila caso haja danos ou perdas humanas, pois alertei para a situação, várias vezes!




5.2.14

A falta que faz o conhecimento geográfico: a perspectiva tórrida


De forma implícita costumo falar da falta que faz o conhecimento geográfico, por parte de toda uma sociedade. Neste comentário venho abordar esta questão de uma forma explícita e centrado numa temática que, genericamente falando é um verdadeiro tabu.
Por esta altura, as memórias de muitos portugueses já "esqueceram" a morte de vários bombeiros nos incêndios de 2013, estando estas quase numa pré-preparação mental para mais 2 ou 3 mortes de soldados da paz em 2014, isto num ano dito normal. Parece que estas mortes já são encaradas como que se de uma fatalidade se tratasse, quando a esmagadora maioria delas era perfeitamente evitável. É lamentável que se considere normal o facto de todos os anos falecerem 1, 2 ou 3 bombeiros, em anos ditos normais em termos de acidentes na frente de fogo.
Falar de questões como aquela que vou abordar agora é muito complicado, já que mexe com emoções muito próprias. Já tive muitas discussões "feias" com colegas acerca disto e não prescindirei nunca do debate, gostem eles ou não. Outros há que concordam comigo, mas preferem não falar deste tema tabu.
A complicação acima referida tem a ver com um facto, o de que não se sabe separar, por vezes, as coisas e entrar-se numa lógica de confrontação, em vez de debate sério e honesto, preferindo-se deixar o coração falar em assuntos que tem de ser o cérebro a comandar.
Indo então directo ao assunto, venho falar do problema que é, genericamente falando, a falta de conhecimento geográfico por parte dos bombeiros voluntários. Claro que, para marcar uma posição forte, refiro que tudo aquilo que os soldados da paz sofrem, deve-se ao que está a montante destes, ou seja, eles não têm a culpa do desordenamento do território, não têm culpa do estado lastimável da floresta, do interesse predatório do lóbi do eucalipto e muitas mais coisas importantes, mas pagam por tudo isto, muitas vezes com a vida. Assim sendo, estou desde já a delimitar/balizar o meu comentário, já que costumo ouvir muitos pseudo comentadores, os quais não são nem especialistas, nem bombeiros voluntários, não tendo portanto moral para falar desta questão. Eu não tenho essa limitação, pois estou nos dois lados. Claro que falo enquanto profissional da geografia e do ordenamento do território e não enquanto bombeiro voluntário. Há poucas semanas os ânimos estiveram exaltados, aquando da divulgação do relatório sobre os incêndios florestais de 2013 e das mortes respectivas. Boa parte da exaltação surgiu por parte de bombeiros voluntários, os quais se sentiram indignados, refutando as supostas responsabilidades directas nas mortes. Outros bombeiros voluntários, como eu, não se sentiram exaltados, pois reconheceram que boa parte das mortes seria evitada se o conhecimento geográfico fosse outro. Além disso, ninguém responsabilizou os bombeiros pelas suas mortes, houve quem fizesse confusão. Naturalmente que os bombeiros voluntários que faleceram não foram culpados da sua morte, foram "apenas" vítimas da falta de conhecimento sobre comportamento do fogo e respectiva leitura do terreno. Esta é a grande verdade. Se os bombeiros voluntários têm culpa disto? Muito pouca ou nenhuma, mas claramente que estes têm de ser apoiados com formação diferenciada, pois estes por si, e genericamente falando, não têm a capacidade de se capacitar neste domínio. Há algo de estranho num sistema que, por exemplo, torna especialistas bombeiros que em apenas 2 semanas tiram um curso de combate a incêndios (Lousã), mesmo tendo estes apenas o 9º ou 12º ano, muitas vezes feito no sistema de novas oportunidades. Naturalmente que há bombeiros voluntários com conhecimentos ao melhor nível que temos, mesmo que tenham apenas o 9º ano, no entanto eu não estou a falar desses, estou sim a falar dos que não têm esse conhecimento, algo que só poderá ser compreendido por alguns. Há algo de estranho num sistema que não torna especialista quem já o é e até tem muitos anos de bombeiro voluntário, tantos quantos aqueles que em 2 semanas se tornam especialistas credenciados. Isto independentemente da formação inerente à do bombeiro voluntário.
Teoricamente até existe uma forma de exigir o reconhecimento já existente, no entanto, e caso isso aconteça, muitos são jogados para as "prateleiras", de forma a não agitar as águas. O conhecimento adquirido fora da lógica do bombeiro voluntário é visto quase como que conhecimento non grato. A lógica é ilógica em alguns casos. Porque não se aproveita a massa crítica já existente nas fileiras de muitas corporações? A resposta é simples, mas isso levaria a conversas muito longas acerca da típica forma de ser do tuga.
Pela experiência que tenho, já vivi situações de risco de vida, as quais só existiram por um motivo simples, a falta de conhecimento geográfico, mesmo por parte de quadros de comando, mas não só. Lembro-me de uma situação, em particular, num concelho vizinho, onde tendo eu chamado à atenção de um quadro de comando sobre o facto de em poucos minutos ir acontecer o crónico efeito de chaminé e irmos ficar rodeados pelo fogo, este não quis saber, mesmo tendo eu transmitido as minhas valências profissionais. O resultado foi simples, rodeados pelo fogo durante 15 minutos...
Parte significativa do que aconteceu em 2013, e não só, no que concerne às mortes dos soldados da paz, deve-se a uma clara insuficiência na formação, a qual é básica demais e pouco incisiva. isto revela-se trágico em incêndios de grandes proporções, pois nos pequenos e de média dimensão essas insuficiências não vêm à tona. A solução não é, como alguns sabichões dizem, a de profissionalizar os bombeiros voluntários, é sim proporcionar-lhes o tempo e o espaço para a formação, bem como os necessários apoios para um voluntariado digno, pois as condições são cada vez mais escassas e isso está irá colocar em causa muita coisa. Nessa altura será tarde demais e aí todos compreenderão que os bombeiros voluntários são um pilar da sociedade portuguesa.
Para terminar, já pensaram em limpar aquele mato em redor das vossas causas ou vão lembrar-se apenas quando o fogo chegar à vossa porta? Os incêndios previnem-se no Inverno!