23.8.13

A conversa das árvores


Mais importante do que ler livros para entender certos assuntos, será o falar com as pessoas sobre estes mesmos assuntos. Gosto de fazer ambos e considero que estão ambos intrinsecamente ligados entre si.
Por isso mesmo é que faço questão de abordar muitas questões quando estou com os amigos. Por vezes fico muito preocupado com o que oiço, pois o nos diálogos oiço muita coisa que revela um franco desconhecimento sobre o território e sobre tudo aquilo que ele encerra em si mesmo.
Há dias atrás, ao abordar a questão do malvado eucalipto, fiquei perplexo com o que ouvi. Esta perplexidade deveu-se não tanto ao que ouvi, mas de quem ouvi. Complicado? 
É público que eu considero o eucalipto árvore non grata de Portugal, pois é uma árvore que tem trazido muitas desgraças a este país. Muito brevemente irei ser bem frontal perante o eucalipto...
Numa conversa com colegas que sabem o que é combater incêndios em eucaliptal, veio à baila a questão financeira e foi aí que as coisas descambaram. Percebi que mesmo estes colegas eram apologistas do eucalipto, mesmo sabendo o carrasco que este é para todos nós.
A floresta portuguesa tem desaparecido (áreas de eucaliptal não são floresta, são monocultura!) e parece que poucos se importam com isso. Promove-se o desordenamento florestal, através do eucalipto, mas parece que isso não é problema. Quer-se ganhar dinheiro a todo o custo, mesmo que as comunidades fiquem a perder com isso. Pensa-se apenas e só no curto prazo e esquece-se o médio e longo prazo. Mentalidades formatadas para pensar assim mesmo é o que temos mais, e isso é deveras preocupante.
Depois, já com a conversa adiantada, falei em oliveiras, em nogueiras, em figueiras e outros mais, e aí todos disseram que comer azeitonas, figos e nozes era muito bom. Nessa altura eu disse algo de muito simples, e porque não plantam? Disseram eles que demorava muito tempo a crescer. Logo aí eu disse algo de muito simples, o de que se nunca plantarem elas nunca crescem...
Vi que poucos são os que querem efectivamente deixar algo de palpável para os filhos e netos, coisa que o eucalipto não deixa. Vi que poucos são os que querem ouvir das bocas dos netos, daqui a uns anos, um agradecimento por estes lhe deixarem algo tão importante como oliveiras, nogueiras ou figueiras. Vi que poucos pretendem voltar a trazer aquela memória em que se montava um balancé de corda num carvalho centenário. Algum de vós andou num balancé pendurado num eucalipto?! Bem me parecia...
Percebo efectivamente que poucos são os que pensam na sua comunidade, daí andar bem preocupado com este sinal dos tempos. Agrava o facto da crise estar a acentuar este tipo de mentalidades formatadas por interesses económicos que, passo a passo, vão tomando conta de tudo e de todos. 
Diria eu, aqueles que se queixam do estado do país, que têm o país que fizeram por merecer. No que me toca, eu estou de consciência tranquila, pois apesar de me queixar do estado actual das coisas, faço algo para tentar mitigar o estado actual da região e do país. 
E, para terminar, gostava de pedir aqueles que gostam tanto do eucalipto, que comecem a comer os frutos do mesmo, deixando as azeitonas, os figos, as nozes, as maçãs e outros mais para mim e para todos aqueles que se importam com as comunidades e com o seu território...



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