31.3.13

Reflexão sobre o dia nacional dos centros históricos


Foi no último dia 23 de Março que se comemorou o Dia Nacional dos Centros Históricos, facto que, na região de Sicó, passou ao lado das entidades públicas com responsabilidades na matéria, nomeadamente Câmaras Municipais. Nesta região, é algo que importava debater seriamente, já que em todas as sedes de concelho e, mesmo, de freguesia, a noção de Centro Histórico tem muito que se lhe diga. E quando digo muito, diga-se muito abandono e desprezo pelo edificado histórico...
Não pretendo com este comentário abordar a fundo esta questão (isso está para breve...), no entanto, e pegando numa pertinente fotografia que tirei nos últimos dias, numa sede de uma, ainda, freguesia, no concelho de Ansião, pretendo lançar o debate sobre esta mesma matéria, pois o cenário resume-se, também, aquilo que esta fotografia mostra.
Foi por um mero acaso que por ali passei e tirei uma fotografia que serve então na perfeição para promover um debate que a todos nos diz respeito. O ângulo da mesma realça o que pretendo abordar.
Para já, dou-vos algumas semanas para reflectir. Pensem nesta fotografia e pensem nas vossas sedes de concelho e freguesia, sff. Qual o futuro que queremos para os nossos centros históricos?

26.3.13

Recuperação, diz ele...


Obras de Santa Engrácia, é o que parecem. A maior parte de vós não conhece, mas isto, na fotografia, é o que resta da antiga Escola Primária do Bofinho. Tito Morgado diz que são obras de recuperação, mas de recuperação estas obras não têm nada, pois o que ali se passou foi uma quase total demolição de um edifício que estava em bom estado, e não em ruínas. O que sair dali nunca poderá ser chamado de recuperação da Escola Primária do Bofinho. As obras... paradas... meses e meses, tal como muitas outras em Alvaiázere.
Esta obra está inserida num projecto denominado por "Alvaiázere - Património Gerador de Riqueza", contudo, e como todos podem ver, o património foi quase totalmente demolido. Já falei aqui desta questão, portanto não me vou repetir. Este comentário serve para mostrar que aquilo que Tito Morgado chama de recuperação, não passa de uma ilusão que, com esta fotografia, fica desmascarada. 
Como o Bofinho é um (belo) lugar que poucos realmente conhecem, naturalmente podem ser ludibriados com afirmações que não correspondem, de todo, à verdade. Quando lá passarem, parem para ver e para reflectir sobre o valor que aquele autarca dá, de facto, ao património em Alvaiázere. Por mais que diga, na imprensa, que é amigo e conhecedor do património, nunca será realmente reconhecido como tal, já que o seu discurso além de supérfluo é evidentemente inconsequente. O pouco que faz é, na minha simples e modesta opinião, patrimóniowash
Este autarca é sim amigo do betão e dos interesses que orbitam em redor dele, pois as suas políticas de aprendiz assim o têm confirmado nos últimos anos. À frente da rádio e televisão diz que se deve recuperar o património, que se deve, em primeiro lugar aproveitar o que já existe, mas na prática isso pura e simplesmente não acontece. Conjugado com a sua evidente impreparação nos domínio do ordenamento do território (uma das grandes promessas eleitorais), torna-se trágico o destino de muito património em Alvaiázere.
É com muita pena que tenho visto nos últimos anos Alvaiázere perder muito do seu património, não só natural, mas também construído, sendo este mais um exemplo disso mesmo. Há que debater urgentemente esta e outras questões, pois o património que existe num dia, pode deixar de existir noutro...
Veja-se o que já ali existiu:


Fonte: http://mw2.google.com/mw-panoramio/photos/medium/28268674.jpg

21.3.13

As árvores fantasma...

Guardei este comentário precisamente para este dia, o dia da árvore. Em Novembro de 2010, elaborei um comentário alusivo à iniciativa "Impacto Zero", a qual promoveu a plantação de 130000 árvores, em Ansião. Nessa altura, critiquei a forma como o projecto foi pensado, já que claramente era um projecto para "encher chouriços", vulgo greenwash, pela General Motors.
A minha principal crítica tinha a ver com o absurdo que era plantar tanta árvore numa área como é a das Serras do Casal Soeiro e Portela. Era então um projecto desajustado perante o território em causa, mas como todos sabemos o que conta é o show-off, mesmo que inconsequente.
Uma das minhas grandes certezas era a mortalidade a que iria assistir naquelas serras, por parte de muitos dos exemplares ali plantados. Findados 3 anos, voltei ao local, para analisar os resultados:


Parei em vários locais, fazendo quase que um transecto por estas duas serras. Observei o conteúdo de dezenas e dezenas de cartuchos, os quais se vêm nas fotografias, e cheguei a uma triste conclusão, mesmo apesar de esperada. A mortalidade é muito elevada, tal como previ inicialmente tendo em conta vários parâmetros, entre os quais o solo.
Não fiz nenhuma estatística, portanto não posso adiantar dados considerados válidos estatisticamente. Mesmo assim, e dos vários locais que vi e dos vários (resmas...) cartuchos que vi, a mortalidade ronda os 40 a 50%. Espero agora que a Associação Florestal de Ansião possa, um dia, elaborar um estudo válido, para que se perceba a coisa no seu todo. Este projecto foi um erro, plantar árvores sim, mas de forma ajustada ao território, pois muitas das árvores estavam condenadas à partida, já que nunca se iriam dar bem em alguns sectores das serras em causa. Boa parte destas árvores poderiam ter sido plantadas em áreas ardidas neste ou noutros concelhos, mas isso já iria concerteza chatear as celuloses que precisam de espaço para continuar a sua senda de eucaliptização do país e da região...


Há que reflectir nos erros do passado para precaver o futuro, pois só assim a região pode andar para a frente. Este é apenas um de muitos, os quais faço questão em denunciar de forma honesta e construtiva.


17.3.13

A eterna questão dos limites administrativos...


É um tema fracturante na sociedade portuguesa, o qual mexe com todos, podendo até estragar amizades entre vizinhos. Nós, geógrafos, somos privilegiados, já que temos a sorte de estudar temas como este e perceber ainda melhor as especificidades deste nosso Portugal. A nossa história é a chave para a percepção desta questão, contudo, e mesmo tendo a chave na mão, nada é garantido quando se pretende abrir portas...
Quando conversamos com pessoas que têm outras profissões, vêm ao de cima questões pertinentes, como a que surgiu há uns dias, quando conversei com um economista. Isto a propósito da região Leiria e da região Sicó. Este, pegando na questão Pombal, dizia que era região de Leiria, enquanto que eu dizia que era a região de Sicó. A sua fundamentação tinha como base os limites administrativos do distrito de Leiria, enquanto que eu fundamentava com os limites naturais da região de Sicó. 
Não ligo demasiado aos limites administrativos, já que estes não são imutáveis. Obviamente que ligo a estes na medida que os tenho de utilizar, mas sempre sabendo que os limites de hoje não são os de amanhã. No mundo natural não há esse problema, pois mais coisa menos coisa, os limites são sempre os mesmos, livres de vontades alheias. No mundo natural o problema é a escala.
Na região de Sicó há realmente curiosidades curiosas (passe o pleonasmo). Esta fotografia representa o expoente "máximo" de um complexo problema de limites administrativos. O lugar de Casas Novas é uma "ilha administrativa", a qual está à deriva entre os concelhos de Ansião (a Oeste, Sul e Este) e Penela (a Norte). Para quem não sabe, este lugar pertence a Soure, facto que ainda passa despercebido a muita gente da região.
Mas não só, já que a região de Sicó está "espalhada" por 4 NUTS III (Baixo Mondego; Pinhal Litoral; Pinhal Interior Norte; Médio Tejo), isto se formos ao limite do que é afinal a região de Sicó, no domínio do carso.
Mas ainda há mais, já que esta nossa região pertence a 3 distritos, sendo eles, Coimbra, Leiria e Santarém, indo também ao limite do que é afinal a região de Sicó.
Este ano será particularmente complicado, já que a questão "freguesias" irá levantar-se de uma forma bem mais apaixonada do que até agora. Em Ansião, realidade que conheço melhor, são duas as freguesias que se vão extinguir, Lagarteira e Torre de Vale de Todos. Apesar de já ter falado com algumas pessoas, não falei ainda com as suficientes para perceber até que ponto as pessoas concordam. Na Lagarteira penso que as opiniões são favoráveis, quanto à Torre, não tenho uma real ideia. Quanto à primeira concordo, já quanto à segunda, não tenho ainda uma ideia bem formada. Para mim o importante é as pessoas concordarem, muito embora saiba bem que nesta questão dos limites administrativos, a coisa não costuma ser propriamente racional, mas sim emocional. 
No caso de Alvaiázere, são também duas as freguesias que vão desaparecer. Este é igualmente um caso que conheço, até porque já lá trabalhei. No caso de Maçãs de Caminho, concordo. No caso de Pussos e Rego da Murta, irá surgir uma nova freguesia, denominada por Pussos São Pedro. Não concordo com esta solução, pois, a ser, o nome da nova freguesia poderia ser Cabaços. Penso que isto não aconteceu porque houve interesses que se mexeram para impedir de alguma forma que Cabaços de afirme, já que afinal Cabaços acaba por ter mais peso do que Alvaiázere. Isto significa que há gente que tem receio que Cabaços se sobreponha a Alvaiázere, algo que só é compreendido por quem lá passa uns tempos e se apercebe das jogadas, numa espécie de geopolítica feita por um aprendiz de autarca.
A ver vamos como vai ser esta questão da reorganização administrativa. Estou curioso para ver o que vai sair, no final, disto tudo. Lembremo-nos que este ano é de autárquicas, daí a panela ir ferver...
Enquanto geógrafo sou racional nestas coisas, não me deixando levar pelo emocional. Apesar de saber que o importante é a vontade das pessoas, sei também que muitas vezes a vontade é uma coisa que não significa per si algo de positivo e de coerente. Como disse no início, os limites administrativos não são estáticos, goste-se ou não. Quanto a outras freguesias que não falei neste comentário, a ver vamos como vai ser...

12.3.13

Viagem ao centro da serra: o lago azul

Quando se utiliza a expressão "lago azul", costuma ser sempre associada a algo belo, como afinal o é um lago azul. No entanto, há excepções à regra, o que significa que há o inverso do belo...
É certo que ali há mesmo um lago azul, mas que de bonito não tem nada. Prossigo desta forma com mais um episódio da saga "viagem ao centro da serra", a qual visa abordar a problemática associada a estes monstros que consomem uma das maiores riquezas da região de Sicó, a sua paisagem (e não só...).
Esta pedreira, em especial, está longe da vista da maior parte das pessoas, pois não se vê ao longe como aquela que se vê da auto-estrada, ao chegar a Pombal. 
O monstro que se vê nestas 3 panorâmicas situa-se a Norte da Redinha, perto do limite do concelho de Pombal, a escassos metros do concelho de Soure. Mesmo eu, fiquei perplexo ao chegar ao primeiro ponto, representado pela primeira fotografia. Apesar de já ter uma noção da dimensão da pedreira, através da carta militar e do próprio google earth, não estava preparado para isto:


Uma das muitas formas de consciencializar as pessoas para esta tragédia é a de mostrar a realidade à qual tentamos fugir quando viramos o olhar, ao passar perto destes monstros. Como alguém, um dia disse, se X não vai à montanha, a montanha vai a X. Tenho a certeza que se não fossem estas fotos, muitas pessoas nunca iriam conhecer este monstro, daí eu fazer questão em vos trazer a montanha. Só assim as mentalidades ficam despertas para algo realmente problemático, que consome a serra e a vida de muitas pessoas. Algumas pessoas ganham milhões com a venda disparatada das nossas serras, enquanto que a maioria de nós sofre com isso de alguma forma.
Será que é isto que queremos para a região de Sicó? Quem ganha com estes monstros? Será que precisamos de tantos monstros? Claro que não! Puro negócio, e não absoluta necessidade.
Ficam mais estas fotos para a posterioridade, as quais espero que de alguma forma vos mobilizem para uma causa, a preservação da paisagem da região de Sicó! 
Muito brevemente irei dar seguimento à saga...

8.3.13

A outra face dos desportos de natureza na região de Sicó

Um dia teria inevitavelmente de surgir o debate sobre uma questão muito particular, relacionada genericamente com o decorrer de provas desportivas na região de Sicó, as quais se desenrolam por esta bela paisagem. Se é certo que este facto tem trazido centenas de pessoas à nossa região, também é agora certo que nem tudo corre bem, decorrente destas mesmas provas desportivas. É certo que a intenção é boa, no entanto...
O facto de associações e/ou empresas poderem organizar livremente provas desportivas, caso de BTT e trail (entre outras) tem levado a que actualmente se comecem a constatar problemas associados. Isto acontece por vários motivos, desde o pleno desconhecimento de regras básicas, até ao desconhecimento de regras que, não sendo básicas, são fundamentais para um correcto desenvolvimento destas provas nesta região muito peculiar. Isto já para não falar que há provas que são feitas sem autorização de algumas entidades públicas, as quais apesar de até saberem, deixam passar... 
Tenho constatado alguma falta de preparação de indivíduos, associações e empresas, o que significa que já observei alguns problemas decorrentes desta impreparação. A falta de regras e do cumprimento de algumas já existentes, tem levado a que o enorme aumento de provas de BTT e trail esteja a ter reflexos negativos, muitas vezes sem que as pessoas se apercebam.



Já falei desta questão a alguns amigos e já senti na pele algum incómodo por surgir a conversa do costume, do suposto fundamentalismo, o que afinal até foi bom, pois alertou-me para algo e fez-me investir uns minutos neste comentário. Assim sendo, venho desta forma mostrar que não é fundamentalismo, é sim pugnar pelo cumprimento de regras, o que permite algo de muito simples, a continuação da existência de provas deste género por muitos e bons anos. Gostar não é dizer apenas que se gosta, gostar é preservar, e isso implica, por vezes, medidas pouco populares no curto prazo (embora populares no médio e longo prazo).
Em primeiro lugar, há que referenciar que eu participo quer em provas de BTT, quer em provas de trail, daí não ser daqueles que fala sem saber. 
As consequências da passagem de centenas de pessoas ou bicicletas num local, podem variar, já que há locais mais sensíveis e locais menos sensíveis. Não pretendo fazer uma análise de conjunto, mas sim pegar em dois exemplos e falar de dois troços (sensíveis) dos respectivos percursos. Penso que será fácil qualquer um entender que numa área protegida, ou numa área que não sendo protegida é sensível, têm de se tomar medidas especiais, decorrentes da sua evidente vulnerabilidade.
Em primeiro lugar, falo do caso do "Trilho do Javali", um trilho de BTT que foi aberto há mais de 3 anos. Este trilho situa-se numa vertente da serra do Casal Soeiro, em Ansião. Há semanas atrás fui então fazer o trilho a pé, com a máquina fotográfica ao ombro, de modo a registar aquilo que importava destacar em termos de problemática. Nunca fiz aquele trilho de bicicleta, já que por uma questão de coerência não participo em provas que sei à partida desrespeitarem regras que considero básicas.
A minha principal preocupação era a erosão associada à abertura de um trilho naquele local, especialmente tendo em conta o declive no segundo terço da vertente. Não precisei de andar muito até me deparar com algo de preocupante, a malvada erosão.
Nesta segunda fotografia, está à vista a erosão (inicial) ocorrida nos últimos 2 a 3 anos, num sector mais declivoso. Não será difícil perceber que em poucos anos, e com episódios de elevada pluviosidade, aquele sulco irá crescer, resta saber a dimensão que terá depois de muita chuva cair e milhares de bicicletas ali passarem. 
Na primeira fotografia, está à vista o que fica depois de alguém pegar numa marreta e andar a partir lapiás à grande e à francesa, mesmo que isso seja proibido (Rede Natura 2000). Quem andou de marreta na mão nem sequer se deu ao trabalho que ver que até estavam ali fósseis...
Não gostei também de constatar que dois muros foram postos abaixo, de forma a que as bicicletas pudessem passar. Será isto preservar o património?!


Nesta quarta fotografia, mostro o trilho linear pelo meio do carvalhal. A ver vamos como vai ficar o sulco daqui a uns tempos. E depois, quando estorvar, abre-se um outro ao lado?


Passo agora a um outro exemplo, mas relacionado com uma prova de trail realizada em Fevereiro último (Trail de Conímbriga). Este troço situa-se no vale das buracas, local de interesse geomorfológico de interesse nacional, o qual devia estar devidamente protegido e ter já um plano de gestão.
No troço que destaco, não deveria passar quaisquer prova, já que é uma área muito sensível. Caso passasse na estrada em terra batida, aí até poderia concordar, mas agora passar num local onde não havia trilho e onde a inclinação é de 45º, aí é que não.


A Câmara Municipal de Condeixa deveria, no meu entender, promover factualmente a preservação do local, e não permitir a degradação do mesmo, pois é isso que está a acontecer. Uma coisa é passar pela estrada em terra (brita), outra é passar por onde não faz sentido, onde só degrada. Urge um plano de gestão deste LIGeom.


Fui ao local, já depois da prova, para elaborar um registo fotográfico que me permita monitorizar a situação nos próximos anos, coisa que ninguém se lembra de fazer. Não gostei de, passados 2 dias, constatar que as fitas de marcação ainda não tinham sido retiradas.
Penso que esta última fotografia é a que mais facilmente é percepcionada por todo/as, já que consegue-se observar o que fica depois da passagem de centenas de pessoas por aquele local com cerca de 35 a 40º de inclinação. Estes locais não aguentam tanta gente e todos os locais têm uma capacidade de carga limitada, a qual não deverá estar estudada para aquele local.
De todo o trajecto, cerca de 22 km, estes 400 metros eram de evitar. Com tanto caminho, para quê passar num local que além de sensível, não tinha caminho?
E, para finalizar, deixo algumas ligações, onde os interessados por esta problemática podem de alguma forma perceber (caso entendam inglês) a problemática associada aos trilhos:





Como já referi, não é uma questão de fundamentalismo nem de imobilismo, é sim de preservação de locais de grande valor patrimonial. Para isso há que criar regras que permitam o usufruto deste património de uma forma sustentada, só assim poderemos realmente usufruir das coisas que gostamos!
Penso que depois deste comentário, fica "tudo" esclarecido, podendo agora ser lançado um debate, sem estereótipos.