27.2.12

Moinhos de água de Sicó


Não sei quantos existem na região de Sicó, sei apenas que o cenário relativo a "99,9%" deles é o que a foto espelha, ou seja o abandono e a ruína. Conheço alguns e inclusivamente em criança brinquei num ou dois deles.
É certo que os tempos são outros, pois afinal a base que sustentava o funcionamento dos moinhos de água da região de Sicó, pura e simplesmente desapareceu. O modo de vida actual levou à extinção de um modo de vida típico e valoroso, mas será que devemos ficar passivos perante o desaparecimento de partes importantes da nossa identidade local e regional?
Recuperar o passado é uma das coisas mais valiosas que poderemos fazer, a bem do presente e do futuro. Não digo recuperar na lógica circense que muitas vezes se observa, digo recuperar na lógica de não deixar morrer uma identidade que a todos nos diz respeito. Não vejo um moinho de água simplesmente como um objecto, pois afinal este mesmo objecto é a face de algo maior, a evolução humana e tudo o que isso encerra em si mesmo.
Há que envolver esta juventude nestas questões. Não têm tempo? Ter têm, mas os valores que lhes foram incutidos levou a que muitos percam mais tempo em facebooks e afins do que naquilo que é realmente essencial, o viver o território e o património. As vantagens são evidentes, embora a maioria não se aperceba disso mesmo. A aprendizagem faz-se através do contacto com as coisas, e isso é realmente importante para toda uma juventude cada vez mais alicerçada no conhecimento supérfluo e, portanto, inconsequente.
Factos importantes a pensar, a bem de todos nós e na nossa identidade. Fica o desafio!

23.2.12

Centro de Interpretação da Nascente dos Olhos de Água: a confirmação de um "elefante branco"


Quem o viu e quem o vê, é esta a melhor expressão que encontro para voltar a falar de uma questão me muito me diz. Apesar de não ter sido contra o projecto, fui contra a forma como ele foi feito. Manifestei isso mesmo desde o início e só tenho pena de quem lançou o projecto não responda agora pelo seu insucesso.
Foi um projecto que alguns denominaram como "espelho de Ansião", mas quem disse isso mesmo deve estar amargamente arrependido...
Lançou-se um projecto mal pensado e mal elaborado, tendo-se baptizado o mesmo como "Centro de Interpretação da Nascente dos Olhos de Água". A "criança" foi mal baptizada, pois na realidade de Centro de Interpretação da Nascente dos Olhos de Água, este nada teve.
A minha intenção com este comentário não é falar do que já falei, é sim juntar factos recentes à questão. As actuais obras que podem ver na envolvência do edifício, ou aquelas que não se conseguem ver dentro do edifício, confirmam aquilo que sempre disse. Este projecto foi, além de um sorvedouro de fundos comunitários, e públicos, um erro crasso que hipotecou Ansião. Foi uma obra "só para inglês ver" e quiçá, "meter inveja" a concelhos vizinhos.
Se as coisas tivessem sido feitas com cabeça, tronco e membros, o cenário não seria o que passados quase 4 anos se vê, ou seja novas obras. A cerimónia de inauguração foi com pompa e circunstância:
Mas passados poucos meses o espaço já era pouco mais que um espaço sem vida e propício a vandalismo (que tristemente já dei conta...). Infelizmente as memórias são curtas e a responsabilização de quem promoveu este projecto é nula. Sinceramente gostava de ouvir o anterior autarca, precisamente aquele que é responsável pelo insucesso de tal projecto que nos ficou bem caro. Quando é para ouvir palmas os políticos estão sempre presentes, mas quando é para ouvir críticas, mesmo que honestas e construtivas, eles ou não aparecem ou então dizem que as críticas são mal intencionadas, típico de quem não tem argumentos contra factos concretos.
Curiosamente, ou não, nunca foi devidamente valorizado e potenciado o principal valor daquele lugar, ou seja a nascente dos Olhos de Água e o importante aquífero ali existente. Ao invés preferiu-se retirar água, através da captação, só para encher a pequena represa, de modo a criar um pequeno lago de água parada na maior parte do tempo. Sensivelmente nos últimos 15 anos, a ribeira só corre 2 ou 3 meses por ano, lembro-me de há 20 anos ela correr de Outubro a Abril, facto que nunca foi tido em conta no projecto (se a base é a água e ela é escassa...).
Outro aspecto que lamento, é o da falta de capacidade de dar alma e vida aquele espaço, É certo de teve um pequeno café, um pequeno posto de turismo, que teve meia dúzia de actividades, mas foi muito, mesmo muito pouco para 4 anos. Das actividades que mais interessavam, nomeadamente no âmbito educativo, pouco ou nada se viu. Quando a obra foi inaugurada, eu disse claramente que mesmo discordando de como esta foi feita, poder-se-ia aproveitar devidamente o espaço, no entanto assim não aconteceu. Não se apostou num leque diversificado de actividades várias, que abrangessem desde as escolas, comunidade local, turistas e inclusivamente universidades ou institutos politécnicos existentes a escassas dezenas de km.
Não se apostou igualmente nos jovens do concelho, alguns dos quais de forma gratuita poderiam ter dado vida e alma aquele espaço, através de actividades várias, devidamente enquadradas e tuteladas pela autarquia local.
Enfim, são factos que gostava que fossem abertamente discutidos, especialmente pelos ansianenses. Sinceramente não espero que estes o façam, já que quando a maioria de nós fala sobre o assunto, fala baixo e apenas ao pé dos amigos. Mesmo assim fica o apelo ao debate, pois isto interessa a todos, ansianenses ou não. Quando nos queixamos do facto das coisas correrem mal, temos de ir mais adiante, já que as lamentações não levam a lado nenhum, ao contrário do debate honesto, construtivo e longe de politiquices encapotadas. Não há que ter receio de abordar estas questões, pois sendo as pessoas de bem todos nos conseguimos entender.

19.2.12

A justiça não folga ao domingo!


Foi num belo domingo de sol que certo cidadão teve uma atitude reprovável, quando se lembrou de queimar resíduos altamente poluentes, o que configura um crime ambiental grave. Sinceramente, e por mais esforço que faça, não compreendo o que é que passa pela cabeça de alguém que tem atitudes reprováveis e altamente lesivas em termos de saúde pública. Será que esta pessoa pensou que aos domingos não haveria fiscalização? Será que confiou no facto da grande maioria dos ansianenses ser passivo perante tais actos?
A resposta não sei, sei apenas que pensou mal, já que a fiscalização não folga aos domingos, e que confiou em demasia, já que apesar da grande maioria dos ansianenses ser passivo e tolerante perante tais actos, basta um para denunciar.
A manhã de sol até estava a correr bem, mas foi sol de pouca dura. O fumo negro deu muito nas vistas e eu obviamente fiz o que que qualquer uma das muitas centenas de pessoas que viram, deveria ter feito, ou seja denunciar! As mentalidades têm mudado, é certo, no entanto é um processo que demora muito e que teima em ter muitos desvios. Não compreendo porque é que os ansianenses (e outros) vendo algo que está mal, pouco nada fazem para mudar o que está mal. São escassos os que fazem algo, é a esses que agradeço os telefonemas que me fazem!
Estou para ver se um determinado jornalista, que vive ali bem perto, publica uma notícia sobre esta questão, pois afinal o fumo tóxico chegou-lhe às portas de casa...
Há que denunciar casos como este. Não há que ter medo, pois caso não queiram denunciar publicamente, sempre podem denunciar de forma anónima! Eu não tenho esse problema ou essa condicionante, pois faço as denúncias assinando por baixo. 
Por vezes vejo situações onde não vale a pena denunciar, valendo a pena sim ser pedagógico (já tive sucesso em algumas situações de pouca gravidade), no entanto em situações como esta não há perdão, dada a sua gravidade. Não é o ambiente que perdeu com esta queima ilegal de resíduos tóxicos, foi sim a comunidade, pois além de respirar gases tóxicos, irá beber, directa ou indirectamente, água poluída (dos aquíferos), é isso afinal que está em causa. Pensem nos vossos filhos, netos ou outros! Vão continuar a ser passivos perante actos tão gravosos como este? 

14.2.12

Sicócartoon: a política da terra queimada


Após alguns meses de interregno, eis que o Sicócartoon regressa ao activo. É uma honra poder voltar a ter no azinheiragate a genialidade do Sicócartoon.

9.2.12

Arqueologia: um valor ainda subestimado na região de Sicó


A arqueologia é infelizmente um parente pobre das políticas de desenvolvimento "praticadas" na região de Sicó. É comum a arqueologia ser considerada um estorvo às políticas de desenvolvimento territorial, especialmente quando certas obras "tropeçam" em vestígios arqueológicos, momento em que se usualmente se ouve dizer que é uma chatice, ou então que azar...
Tudo isto acontece numa região riquíssima no domínio da arqueologia, o que é realmente estranho. Não seria normal valorizar-se este recurso e promover a escavação de locais onde a coisa promete? Não me refiro apenas às antas que as fotos dão conta (felizmente já escavadas e estudadas!), refiro-me sim a todo o imenso património arqueológico existente na região de Sicó. Isto poderia incluir também vestígios que "dormem" por debaixo de rotundas com grande volume de trânsito (é uma indirecta a gente da política que sabe, mas que preferiu construir por cima, já que era uma maçada se a coisa se soubesse...).
A prioridade é o betão e alcatrão, o resto vem depois. Há honrosas excepções, nomeadamente em Condeixa e em Penela. Outras excepções só não o são porque o betão estragou a coisa, quando em vez de se prosseguir a "coisa", decidiu-se promover o betão onde poderiam estar mais vestígios arqueológicos.
Nunca me hei de cansar de dizer que a região de Sicó tem muitas variáveis que poderiam realmente ter entrado na equação que é o desenvolvimento territorial, mas que afinal são altamente subestimadas e relegadas para nonagésimo plano. Ao invés, promove-se a entrada de variáveis estranhas à região de Sicó, enviezando todo o processo.
Outras regiões (em Portugal ou não...), que não têm a sorte de ter o imenso património que a região de Sicó tem, conseguem fazer muito mais com muito menos. Aqui, na região de Sicó, faz-se muito menos com muito mais, porque será? Eu sei, mas deixo a dúvida para todos vós.
Pode parecer, para alguns, estranho, eu ser tão crítico, mas isso é simples de responder, pois afinal a crítica que faço tem em vista apenas e só o devido reconhecimento do nosso património. Muitas vezes é preciso ser-se incisivo para que as mentalidades se mexam, daí eu ser forte na crítica. 
A quem não liga muito à temática da arqueologia, dou a sugestão de pesquisarem um bocado, pois tenho a certeza que vão ficar maravilhados com o que existe na região de Sicó. E quando digo pesquisarem, não é nas entidades oficiais, é sim sobretudo naqueles eu denomino como os anciãos do património. Descobri-los dá trabalho, mas vale mesmo a pena!
Em 2011 cheguei a convidar alguém, ligado à arqueologia, para dar aqui um contributo sobre a temática, no entanto não foi aceite o convite. Até compreendo a recusa, já que na região de Sicó falar sobre certas questões pode afigurar-se como um verdadeiro problema que directa ou indirectamente pode levantar problemas a nível profissional e/ou pessoal. Tendo em conta isto mesmo, irei tentar dar mais protagonismo à temática da arqueologia da região de Sicó, já que apesar de já por algumas vezes ter falado nesta questão, isso foi claramente insuficiente tendo em conta a riqueza patrimonial desta nossa região.

6.2.12

O esventrar de um território...


Sinceramente nem sei como começar esta questão, mas penso que a palavra esventrar seja a palavra adequada para ilustrar o tema de hoje. Como facilmente poderão ver pela primeira fotografia, pretendo abordar uma questão que nos é cara a todos nós, já que são muitos os que directa ou indirectamente já foram afectados por este problema que é o esventrar do nosso território.
São muito/as o/as que em certa altura já se sentiram afectados pela construção de infra-estruturas várias, nomeadamente estradas. Eu sou uma dessas pessoas. A determinado momento acaba-se o sossego, já que certa pessoa decide que é por ali que tem de passar uma estrada.
O que pretendo destacar hoje tem em certa medida a ver com isto, mas não só. Admito que mesmo custando, certas vezes o "esventramento" é necessário, no entanto muitas outras vezes não o é! Quando o que move este esventramento é a pura (e dura) especulação imobiliária, as coisas mudam de figura.
As duas fotografias que ilustram este meu comentário são da Vila de Alvaiázere, onde desde há vários meses começou um esventramento polémico. Quando digo esventramento refiro-me, claro, à consequência natural do apetite desmesurado da especulação imobiliária, cancro que corrói este nosso território.
Não será muito difícil quem já não vai a Alvaiázere há vários meses ficar chocado/a com o cenário actual. Chegando a esta bela Vila, o cidadão comum depara-se com uma rua, com pouco mais de 1km, onde já foram desbaratados 2 000 000 de euros (isso mesmo...). Logo dali vê-se mais abaixo o esventrar do perímetro urbano desta Vila, por parte de máquinas giratórias e de rastos. Terrenos e casas, nada escapa à fome exponencial da especulação imobiliária. Esta é a imagem de marca do autarca local, Paulo Morgado, o qual tem demonstrado que o importante é mesmo fomentar a especulação imobiliária, quanto mais betão melhor, já que assim entram mais recursos financeiros, vindos do IMI. Este é um jogo muito perigoso, que já mostrou que tem sempre maus resultados, pois quando em primeiro lugar está o betão, as coisas correm mal para quem devia ser prioridade, ou seja os cidadãos.
Democracia participada? Não, isso é incómodo e chato. Além disso o cidadão comum não está preparado para ter opinião própria, portanto tem mesmo de ser uma democracia delegada e totalitária.
A política do autarca local tem tido várias consequências, 6 000 000 de dívidas (isso mesmo...), o hipotecar do futuro do concelho, o afastar de vários jovens alvaiazerenses e a discórdia de quem já ali vive há muitas décadas e não se verga a guerrilhas. Jovens houve que foram viver para fora do concelho de Alvaiázere, pois de guerras estão fartos. 
Os vários indicadores de qualidade de vida têm sofrido uma queda contínua ao longo dos últimos anos, é essa a herança do autarca local, que muitas vezes se confunde com um qualquer gestor de empresa, o que obviamente não é o que se espera de um autarca. As frequentes estatísticas, que confirmam a franca perda de qualidade de vida, são incómodas, mas felizmente lá vão aparecendo na imprensa regional, o que é uma chatice concerteza.
Há semanas atrás, quando estive pela última vez na Vila de Alvaiázere, deparei-me com uma realidade que custa a acreditar, um território cheio de potencial e história, que está a ser esventrado a um ritmo elevado. Não interessa reabilitar o que existe, interessa sim deitar o que existe abaixo para não estorvar aos prédios que se avizinham, cortar os terrenos com boa aptidão agrícola para urbanizar, maximizando o lucro aos promotores imobiliários e finalmente ter um discurso bonito de ser ouvir, embora sem fundamento ou lógica. Isto já para não falar de uns candeeiros sem enquadramento possível. E a identidade local? E as especificidades locais?
Quem critica este cenário é, como eu, visto como personna non grata, o que para mim é um autêntico elogio. Edifícios com história são ostracizados, já que são um entrave ao apetite da especulação imobiliária. O património arqueológico é também um entrave, só o que já não se consegue tapar das vistas incómodas é que escapa.
A desculpa é a de sempre, que é preciso desenvolver, quando afinal confunde-se desenvolvimento com crescimento, o que em termos conceptuais é grave. Mas isso nem interessa, já que a maioria dos que ouvem este discurso são pessoas muito vulneráveis a palavras de ocasião. Agrada-se cada vez mais aos interesses que orbitam em redor do poder público e desagrada-se cada vez mais aqueles que afinal deviam mandar, os cidadãos, os tais que não são competentes para tomar as decisões...
Entretanto a identidade local vai-se esvaindo nesta ânsia de esventrar um território valioso e que encerra ainda muitas surpresas. Poucos são os que conseguem manter a cultura local, mas felizmente que são bons!
Este comentário é algo disconexo, mas hoje apeteceu-me desenvolver a coisa de forma diferente. O importante é acima de tudo estimular a crítica honesta e construtiva, apelando à vossa mobilização no exercício da cidadania. Há que puxar o lustro à liberdade de expressão!
Brevemente irei falar do Plano de Pormenor da Avanteira-Pelmá, que se afigura como um genial golpe de especulação imobiliária, na ânsia desmesurada de construir, construir e mais construir. Infelizmente não tive a oportunidade de participar no processo público (deixei passar o prazo), mas uma coisa sei, a de que é realmente preocupante o que o autarca local anda a fazer aos poucos. O PDM de 2ª geração não aparece (já lá vão 7 anos), o que tenho visto são apenas tentativas localizadas de abrir caminho à especulação imobiliária e tentativas várias de fazer renascer várias pedreiras. Potenciar os recursos naturais e culturais, isso não se tem visto, muito pelo contrário. Parece-me que quando surgir o PDM de 2ª geração, este vai ser extremamente benévolo para a especulação imobiliária e afins, o resto será conversa de algibeira.