17.7.11

Eiras da nossa terra


Foi durante um trabalho de investigação que desenvolvi entre 2006 e 2008, enquanto analisava os ortofotomapas de uma área situada em Ansião, que comecei a ver algo que me intrigou. Primeiro foi a existência que alguns círculos, os quais constatei facilmente que eram eiras, mas depois foi a grande concentração das mesmas numa área tão pequena. No final do trabalho incluí estas e outras eiras enquanto elemento patrimonial, passível de valorização em termos turísticos e culturais.
Não posso dizer que seja do tempo em que se fazia uso das eiras, mas posso dizer que ainda sou do tempo em que se fazia algum uso das eiras, seja na debulha do milho, seja na limpeza da azeitona, através daquelas relíquias em madeira em que se dava à manivela, para separar as folhas das azeitonas.
Eram lugares de trabalho e convívio, lugares estes que na esmagadora maioria estão como podem ver nas fotografias.


É certo que os tempos são outros, que as coisas já não podem ser como eram antigamente, mas também é certo que o mundo rural é uma autêntica mina de ouro em termos de património natural, construído, entre outros. A revitalização do mundo rural passa pelo aproveitamento dos recursos existentes, no qual se pode e deve englobar estes mesmos recursos numa estratégia global, onde cada elemento patrimonial, como é o caso das eiras, se pode considerar como uma variável numa complexa equação denominada como desenvolvimento regional.
As eiras são uma destas variáveis, infelizmente não há estratégia para aproveitar este elemento identitário da região de Sicó, onde em tempos se fez cultura. Os Ranchos Folclóricos são dos poucos que ainda têm a sensibilidade de preservar e divulgar estes mesmos elementos, através da preservação de muitas das ferramentas utilizadas nas actividades efectuadas nas eiras, ou então através da recriação de actividades que, em tempos, se faziam nas eiras, caso da debulha do milho ou da limpeza da azeitona.
A crise que assistimos hoje é, também, devida ao nosso alheamento sobre o mundo rural e sobre as suas actividades, muitos foram iludidos por um futuro que nunca chegou e agora estão totalmente dependentes de outrem. O aproveitamento do nosso património não só dignifica e honra a nossa cultura, como representa uma mais valia económica subaproveitada. As eiras são apenas o rosto de uma identidade territorial, prestada ao abandono, quando afinal podiam ter um papel bem relevante nos dias de hoje.
Pensem nisto que vos digo, a bem do património e a bem do nosso futuro...

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1 comentário:

CR 35 disse...

Ainda existe e foi preservada a eira dos meus avós no Casal de São Brás do outro lado da capela. Onde nos reunimos e fazemos anualmente,um convívio familiar com comes e bebes.