20.6.11

Imprensa local ao serviço de interesses políticos e económicos?

Esta é a segunda vez que faço referência a um caso que, quanto a mim, pode muito bem representar uma manipulação da opinião pública, manipulação esta perpetrada por interesses políticos e económicos associados a um parque eólico em especial, tudo isso feito através de um jornal local, o qual penso que nem se terá apercebido do facto, já que estes interesses sabem mover-se bem e ser, por vezes sublimes, fazendo as coisas sem que os outros se apercebam daquilo que afinal está escrito nas entrelinhas.
Da primeira vez, referi-me a uma notícia dada pelo Jornal Serras de Ansião, na qual esta mesma notícia era moldada convenientemente à posição de alguns interesses políticos, tornando-se uma não notícia e uma atitude que além de ser pouco ética, não contribuiu nada para a boa imagem do Jornal em causa.
Desta vez a situação é ligeiramente diferente, referindo-me ao Jornal O Alvaiazerense, o qual acompanho com regularidade. Quando a actual direcção deste jornal entrou em funções, lembro-me claramente de esta ter referido que não estaria ao serviço de interesses, servindo para informar a população de forma imparcial, como aliás se exige a todos os meios de comunicação social, locais, regionais ou nacionais, daí estranhar, agora, o conteúdo mais do que parcial, de uma reportagem sobre o Parque eólico da Serra de Alvaiázere.
Antes de iniciar a descrição do caso, tenho a referir que com este comentário pretendo apenas o cabal esclarecimento de uma situação concreta, já que a minha dúvida está devidamente fundamentada, como irei demonstrar adiante. Estarei disponível para esclarecimento por parte da direcção do Jornal O Alvaiazerense, disponibilizando este espaço de discussão para eventual resposta por parte do mesmo.
Como não tenho acesso à edição em papel, restringirei o meu comentário ao texto publicado no site do Jornal O Alvaiazerense, na edição de 30 de Abril, sobre o Parque eólico. 
Um dos primeiros factos que estranhei nesta reportagem, foi surgir o nome de alguém ligado à SEALVE, S.A., isto porque quando surgiram as várias polémicas associadas à construção deste parque eólico, genericamente nunca surgiu sequer um nome que desse a cara pela SEALVE S.A., agora, convenientemente surge um nome, algo de curioso, sem dúvida. Não esqueçamos que a SEALVE S.A. nunca quis prestar esclarecimentos aquando das polémicas, agora que o parque eólico já está de pé a postura muda, qual a razão desta notável mudança de atitude?
Sobre factos mais concretos, é dito que o parque eólico tem previsto serem instaladas 9 máquinas, algo que estranho muito, pois a previsão era de 9 mas 2 das torres foram chumbadas, afinal em que ficamos, vamos ter mais polémica por a SEALVE S.A. querer colocar a qualquer custo as duas torres que foram chumbadas noutro local da Serra? As 2 torres chumbadas estavam dentro do perímetro do castro da Serra de Alvaiázere, daí terem sido chumbadas. Estão aprovadas apenas 7 torres, não 9, será que há algo de devamos saber e que não sabemos? Como eu sei que pessoas da SEALVE S.A. acompanham este blog, "espero" por resposta da mesma, caso obviamente esta assim o entenda.
Estranho também ter sido feita a referência aos pareceres desfavoráveis ao parque eólico e estas entidades, não terem sido questionadas no âmbito desta reportagem (nem uma...), tornando-se estranha esta abertura para falar com a SEALVE, S.A. e a não abertura para falar com quem na altura própria se manifestou em sede própria contra este projecto. Não seria correcto, do ponto de vista jornalístico, falar com as duas partes?
Apesar de ser uma opinião muito pessoal, parece-me que, mesmo de forma indirecta e sublime, houve aqui algum intuito em minar a imagem de quem se mostrou contra este projecto (face à opinião pública em Alvaiázere), daí nenhuma das entidades referidas ter tido hipótese de falar, nesta reportagem, sobre o caso. Esta atitude tem muitas semelhanças com a estratégia do autarca local, Paulo Morgado, que promove "tempo de antena" a quem está próximo das suas posições e não promove o mesmo (impede) a quem não lhe está próximo, atitude nada democrática, embora natural para o mesmo. Tem sido notável o número de vezes que este autarca surge, em fotografias, na imprensa local. Por exemplo, na edição de 31 de Maio o mesmo surge por duas vezes na capa do Jornal O Alvaiazerense, coincidência ou mero acaso?
Um aspecto que me preocupa muito, no âmbito da não inclusão de opiniões, que não a da SEALVE S.A., é o facto de ter sido referido algo que não corresponde à verdade, constituindo assim uma afirmação falsa, refiro-me à seguinte afirmação:
"As polémicas que haviam inicialmente foram-se atenuando com o tempo, os problemas ou os impactos ambientais que se previam não ocorreram, porque houve um estudo muito intensivo antes"
Quanto a esta afirmação, falsa, tenho a dizer algumas coisas, em primeiro lugar as polémicas subsistem, foram apenas abafadas pelo tempo, algo de conveniente para a SEALVE, S.A., infelizmente a "nossa" memória é curta, felizmente que existe a internet para relembrar.
Quanto aos problemas ou impactos, eles ocorreram e continuam a ocorrer. Os estudos não foram intensivos, muito pelo contrário, uma das muitas provas foi infelizmente dada quando eu referi que havia uma possibilidade muito elevada da existência de grutas e isso foi ignorado, tendo depois sido encontradas duas grutas precisamente no local de implantação das sapatas. A obra nestas duas sapatas esteve embargada vários meses de depois disso.... construiu-se em cima de uma destas grutas, algo profundamente lamentável de acontecer numa área supostamente protegida por leis nacionais e internacionais.
Sobre outros impactos ambientais, confirmaram-se igualmente, azinheiras abatidas, flora e fauna afectadas, mesmo que estivéssemos em habitats de interesse prioritário. Nota também que para a torre situada à frente (100 metros) de um abrigo de morcegos de importância nacional, está a ser feito um estudo de monitorização que levará anos, portanto como pode dizer a SEALVE S.A. que não ocorreram impactos? Lamentável, no mínimo, especialmente quando está provado científicamente que as torres eólicas têm grave impactos sobre aves e morcegos...
Impacto paisagístico (ambiental), não houve? Pela SEALVE S.A., e segundo as suas afirmações, não houve, mas afinal quem passa pela região de Sicó vê isso sem precisar sequer de óculos, mesmo a 15 km de distância.
Sobre os fundos, que a SEALVE S.A. diz serem tão benéficos para Alvaiázere, estes só serão se forem bem aplicados, algo sobre o qual tenho bastantes reservas. Será que se justifica destruir um valor essencial para potenciar o supérfluo? Por esta lógica metia-se uma pedreira na Serra de Alvaiázere, pois assim conseguiam-se fundos, mas seria isto correcto?!
Tenho também bastantes reservas sobre o benefício deste parque eólico, já que destruíu-se algo de importante para beneficiar não se sabe bem quem. Se os alvaiazerenses soubessem que parte significativa do que pagam na tarifa da electricidade vai para subsidiar as eólicas, o seu já fraco apoio cairia totalmente por terra, pois as eólicas são um grande negócio para empresas como a SEALVE S.A. algo que a mesma não pode desmentir, é um negócio altamente lucrativo, embora esta tenha tido centenas de milhares de euros de prejuízo devido aos tais impactos e polémicas, tudo porque os supostos estudos intensivos não foram intensivos, foram sim supérfluos, como aliás se confirmou, é um facto e não mera opinião. Curiosamente quem se queixou publicamente destes prejuízos foi o autarca local e não a SEALVE, S.A., nomeando este, na imprensa local, como culpados dos prejuízos precisamente os nomes das pessoas e entidades citados nesta reportagem como contrários à construção do parque eólico, coincidência ou mero acaso?
Um dos meus grandes receios, é que Jornais como o Alvaiazerense possam, mesmo que de forma indirecta, estar a ser manipulados por interesses predatórios com vista à manipulação da opinião pública, com vista ao apoio desta população a projectos predatórios promovidos por interesses obscuros (acontece um muitos municípios, infelizmente). Já todos sabemos que os jornais locais representam uma boa ferramenta para interesses políticos e económicos conseguirem o apoio da população, boa parte da qual susceptível de ser facilmente manipulável por notícias com segundas intenções. Espero com este comentário estar, além de ver esclarecida esta situação, contribuir de alguma forma para a independência e melhoria da qualidade da imprensa local, neste caso do Jornal O Alvaiazerense, jornal que prezo dada a sua correcção para comigo, mesmo em alturas mais difíceis, como foi o episódio das azinheiras em 2007/08. Em vez de se vergar ao poder político, este teve a coragem de, na altura, dar voz a todas as partes, algo que não esqueço e que mostrou, na altura, independência jornalística deste mesmo Jornal.
Resta-me agora esperar pela resposta do Jornal O Alvaiazerense, de forma a saber o que este tem a dizer e a justificar, caso assim o entenda, a parcialidade desta reportagem no concreto.
Falando agora no panorama da imprensa local, a nível da região de Sicó, sei o quanto difícil é jornais locais conseguirem afastar-se muito do poder local, pois dependem, em parte dele. Lembro-me de um jornal local, que não de Alvaiázere, no qual também tenho pessoas conhecidas, onde uma destas pessoas me disse que não poderia publicar notícias mais comprometedoras sobre certo município, devido ao facto de este mesmo município lhe dever uma quantia significativa (publicidade), que a publicação de notícia menos abonadora poderia afectar gravemente o equilíbrio financeiro deste mesmo jornal. É por esta e outras razões que devemos pugnar e defender a imprensa local de interesses obscuros, pois um "mero" jornal local pode ser uma "arma" muito poderosa, no bom e no mau sentido. Para concretizar este raciocínio, basta pensar na influência que um jornal local pode ter numa faixa de população que muitas vezes lê apenas e só o jornal da terra. Para bom entendedor...
Para finalizar, há apenas duas respostas possíveis à questão que dá título a este meu comentário, sim ou não. Sei que o titulo pode ser encarado como provocatório, no entanto eu considero-o apenas e só como um convite a uma reflexão ponderada, honesta e construtiva, a bem da imprensa da região de Sicó e a bem do património desta, ainda, bela região. Fica o desafio para um debate sobre esta questão importante para toda a região.

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