30.5.11

Desencontros no CISED: Natureza quanto não custa?

Apesar de estar bem longe de Portugal, continuo, como sempre, atento às mais variadas questões associadas à região de Sicó, daí continuar a analisar alguns factos mais pertinentes que por ali se passam.
A questão que vou destacar agora, prende-se com uma iniciativa que já "mostrei" que tinha potencial, fazendo a respectiva referência num dos episódios d "Os gralhos". Falo sobre o aproveitamento do CISED, e, mais especificamente sobre os "Encontros no CISED",  encontros que deveriam ser pedagógicos.
A razão de ter utilizado a expressão "deviam ser pedagógicos", deve-se ao facto de ter notado que no último destes encontros (http://www.cm-penela.pt/noticias.php?idnoticia=996) alguns dos temas além de não terem sido pedagógicos, foram contraproducentes na forma como foram abordados.
O encontro teve como título "Natureza quanto custa?", algo que me preocupou, especialmente porque  tal como é dito num livro que já aqui referenciei, sobre economia ecológica (Daly e Farley, 2009), "a maioria dos economistas sabe o preço de tudo mas não sabe o valor de nada", genericamente falando. Não tenho nada contra os economistas enquanto pessoas, mas confesso que desgosto da maioria destes,  já que estes só pensam quase que apenas numa lógica, fria, de números, são poucos os economistas que, como Herman Daly e Joshua Farley têm uma ideia real do mundo em que vivemos e daquilo que é realmente necessário para o tornar melhor.
Uma das coisas que actualmente mais me preocupa é a mercantilização da Natureza, algo que mesmo podendo ter boas intenções, e quiçá sucesso, nas mãos de algumas pessoas, não o tem na mão de economistas (genericamente falando) e especialmemte políticos. O "verde" tornou-se num autêntico negócio, do qual o poder económico se apropriou, desvirtuando esta "onda verde" e pervertendo os seus objectivos, que seriam fundamentalmente associados à sustentabilidade. 
Basta ver o negócio das eólicas, o qual foi apropriado pelo poder económico, na ânsia de lucro fácil. O que interessa nas eólicas não é a energia alternativa, é sim o lucro alternativo, nem que para isso os portugueses sejam roubados na sua tarifa da electricidade todos os meses. Vende-se  a banha da cobra e depois os portugueses nem imaginam que são enganados, chegando-se ao cúmulo de se ter de pagar 200 milhões de euros à central de energia do Carregado por estar parada (devido às eólicas...), com o alto patrocínio do contribuinte português!
Pormenores à parte, vou agora ao que me interessa destacar sobre aquilo que foi falado neste encontro, isto na base do que está nos canais informativos próprios, caso do site da Câmara Municipal de Penela. Vou falar apenas de factos descritos nesta nota informativa, os quais mostram que muito vai mal no mundo científico e não científico.
Começo então com o equívoco da investigadora Cristina Rodrigues, quando esta aborda a questão das alterações climáticas, nomeadamente sobre o facto de se ter de travar as alterações climáticas. É errado que se deva sequer dizer que se deve travar as alterações climáticas, pois estas são um fenómeno natural e não antrópico, é um erro básico que muitos investigadores teimam repetir vez após vez, mesmo algumas associações ambientalistas costumam falhar nesta questão. A acção antrópica tem sim alguma influência no clima (diminuta no seu todo, mas suficiente para perturbar de alguma forma o sistema climático), facto inegável, agora confundir estes dois factos diferenciados é que já é um erro inaceitável, do meu ponto de vista, e que leva a um afastamento do cidadão nesta questão tão importante. Uma coisa são as alterações climáticas, outra é a influência que a acção antrópica tem na dinâmica atmosférica, é simples e não há que enganar.
As alterações climáticas têm concerteza uma influência crucial no modo de vida das civilizações, isso é o ponto fulcral, já que nos deveremos centrar no facto de não nos estarmos a preparar devidamente para as "alterações" que aí vêm e que já estão a afectar o nosso modo de vida, é aí que devemos centrar os esforços, o caso do solo é um bom exemplo dado por esta investigadora, havendo muitos outros casos, caso da biodiversidade, agricultura (antecipar as sementeiras, etc), poupança e eficiência energética, deixar o pópó em casa, etc, etc.
As alterações climáticas não são um problema em si, o problema é a perturbação antrópica, daí o equívoco, o qual tem reflexos negativos a nível pedagógico.
As políticas e estratégias de desenvolvimento rural devem ter na sua base as pessoas e não os interesses predatórios que guiam este nosso mundo, enquanto isso não acontecer de pouco vale falar em teorias (algumas boas, outras nem por isso) que genericamente nunca irão passar de utopias, pois o desenvolvimento do interior infelizmente depende de uma teia de parasitas que aproveitam a política nacional para moldarem o rumo do país à sua rede de interesses pessoais.
No caso do Professor da Universidade de Coimbra, Márcio Nobre, considero que o que este referiu relativamente à produção de biocombustíveis é incorrecto e representa uma ideia perigosa que infelizmente tem dado muitos problemas a nível mundial. Estes problemas centram-se fundamentalmente sobre o facto de ser mais interessante do ponto de vista económico produzir produtos agrícolas para servirem como biocombustível, já que a produção de alimentos não é tão importante para alguns "senhores do mundo" (interesses económicos). É mais importante ter combustível para os pópós de gente que não prescinde do automóvel do que alimentar a fome de muitos cidadãos de segunda, como infelizmente muitos portugueses e não portugueses são considerados (depois ainda entram os OGM na conversa, com a desculpa que é para matar a fome no mundo, tal como foi dito durante a fracassada revolução verde, há décadas atrás..).
Para poderem ver a problemática desta questão, deixo alguns links:

http://www.youtube.com/watch?v=t_Fw6y4T3Po



Mesmo podendo este docente não se referir explicitamente a produção de biocombustíveis no sentido que referi atrás, já que se refere aos resíduos, esta está implícita no seu discurso, algo que me preocupa enquanto cidadão e enquanto geógrafo. O seu estudo sobre a legislação parece-me muito interessante, no entanto nesta questão dos biocombustíveis entra uma questão ética que é muito complexa de gerir, quanto a mim impossível tendo em conta os reais interesses dos "senhores do mundo"...
A solução que este docente defende não é credível, sob vários pontos de vista, pois a biomassa (florestal por exemplo), essa deve ser aproveitada, entre outros, para a produção de energia eléctrica e não para combustíveis (as centrais de biomassa ainda não entraram em força porque os "senhores donos" consideram que têm de ser subsidiados ainda mais, com acontece com as eólicas, daí os projectos estarem em stand-by e só arrancarem quando os contribuintes forem delicadamente roubados mais uma vez pela classe política).
O desaproveitamento dos terrenos agrícolas tem uma história muito complexa, a qual "começa" basicamente com o êxodo rural, na década de 60 (Sec. XX) e "acaba" com as péssimas políticas que vêm o interior quase como uma área para lazer dos citadinos, uma área para espetarem eólicas em áreas protegidas, uma área para fazer barragens para os citadinos beberem, um recreio para meninos ricos brincarem quando se fartam do seu trabalho entre quatro paredes e pouco mais.  Daqui a algum tempo irei falar concretamente sobre as "interioridades", de forma a dar seguimento a este raciocínio.
Os terrenos agrícolas devem sim ser aproveitados para produzir alimentos e reduzir a importação de produtos alimentares, para isso há promover o regresso aos campos através de ideias inovadoras, fazendo aqueles que estão fartos das cidades apaixonarem-se pelo interior, o que não é assim tão difícil, muito pelo contrário. Vejam um exemplo conhecido: http://www.novospovoadores.pt/
Choca-me que esta visão tecnocrata sobre o mundo rural, que falo no penúltimo parágrafo, esteja a ganhar cada vez mais força, além de o interior ser desprezado, quase todo o seu património é igualmente desprezado e colocado para segundo plano, pois o que interessa não é realmente o que deveria interessar. O mundo rural não tem de ser o recreio dos citadinos (genericamente falando), o mundo rural não tem de ser despojado de todo o seu valor a favor dos jeitos e manias de alguns citadinos, onde o que interessa é ter o depósito do carro cheio e o resto é conversa. 
Sou muito crítico de ideias que não interessam ao mundo rural, no qual muitos autarcas só vêm a sua ideia de desenvolvimento, ignorando e/ou desprezando outros caminhos, tudo isto devido a versões estereotipadas de desenvolvimento regional.
Do que li acerca do que foi falado neste encontro, em Penela, fiquei ainda mais preocupado com o futuro, onde as soluções que curiosamente já existem, não interessam aos poderes instalados a nível nacional, o povo esse é que sofre na pele. Gostava sim de ter ouvido outro discurso...
As coisas são feitas do topo para a base, em vez da base para o topo, o que garantiria a sustentabilidade, daí o crónico insucesso das políticas territoriais em Portugal. O resultado está à vista...
Sobre o Paulo Magalhães, comprei há vários meses o seu livro (tendo também um link no azinheiragate), pois é excelente, o problema é que os interesses instalados comprometem excelentes ideias como as que estão expressas no seu livro.
A Natureza não tem preço, por mais que tentem tornar a Natureza vendável. Nós fazemos parte integrante da Natureza e ao tornarmos vendável a Natureza estamos basicamente a vendermo-nos nós próprios, o que obviamente não vai dar bom resultado...
Espero que num dos próximos encontros no CISED as coisas corram melhor. O CISED tem um bom potencial para este tipo de encontros, a Câmara Municipal de Penela já teve a inteligência de começar a aproveitar este mesmo potencial, no entanto neste encontro, a que faço referência, houve algumas falhas que deverão ser colmatadas, daí a minha crítica, construtiva, a alguns dos factos ali discutidos.
Espero, com este comentário, ter "espicaçado" as mentalidades de muitos de vós, promovendo assim uma reflexão profunda sobre questões tão importantes para quem vive no melhor sítio para se viver, fora das cidades!

26.5.11

Pseudo política urbana em Alvaiázere

Fonte: C.M.Alvaiázere

Não sei a que propósito, já ouvi falar deste projecto como um projecto de valorização e regeneração ambiental das margens do Rio Nabão, isto tendo em conta que aquele terreno era (é!) leito de cheia e terreno bom para a agricultura (foi), dá que pensar não dá? Tendo em conta o autarca em causa e dada a sua natural inaptidão no domínio do ordenamento do território é algo que infelizmente já é recorrente tendo em conta os últimos anos.
O exemplo que agora destaco é a prova irrefutável da paupérrima aptidão do autarca Paulo Morgado para questões essenciais como são o ordenamento e gestão do território. O local do projecto que saliento neste comentário, situa-se na freguesia de Pelmá, mais precisamente no lugar de Avanteira, onde existe um belo moinho de pedra, o qual ainda funciona (recomendo visita quando houver actividades).
Num terreno agricultável, o autarca local teve a peregrina ideia de construir um parque urbano, isto numa freguesia iminentemente rural. Importa também salientar que além de terreno com aptidão agrícola, esta área é leito de cheia.
Tendo em conta estes pequenos pormenores que destaquei atrás, como se justifique que o autarca de Alvaiázere desperdice 558.931 euros na construção de uma infra-estrutura que além de ter destruído terreno com aptidão agrícola, se justificaria sim numa freguesia urbana? Numa freguesia onde faltam condições básicas, o autarca considera que este é um projecto válido, algo que mostra claramente o equívoco deste projecto. Em vez de apostar na criação de condições essenciais para o desenvolvimento daquela freguesia, aposta-se erroneamente num projecto que deixa muitas dúvidas e ao qual se chama de regeneração ambiental? Ora, como se pode denominar assim um projecto que transforma uma área natural numa área não natural?
Quem irá utilizar por exemplo aquele campo de futebol? Alguns miúdos concerteza, mas não haveria prioridades a seguir? Para que necessitam as pessoas de um sítio para passear se estão rodeadas pela Natureza? 
Há cerca de 4 anos, quando consegui trazer um professor universitário de Lisboa, para uma reunião com vista à efectivação de um protocolo com a Universidade de Lisboa (coisa que nunca aconteceu...), este mesmo professor necessitou apenas de uma tarde para, no final, me dizer que este autarca era um pleno tecnocrata e este projecto que destaco mostra isso mesmo, pois o autarca baseou-se apenas na teoria, não fundamentada sequer, para se sobrepor aos factores humanos e sociais (tecnocracia). Com isto perverte-se toda a lógica de desenvolvimento e em vez de se criar mais valias com investimentos, castra-se as possibilidades e riquezas de uma freguesia, com projectos subservientes à política do betão, que esquece o essencial, as pessoas.
O greenwash que o autarca local tem feito, felizmente não tem conseguido ter sucesso, pois a sua política "predadora" tem sido denunciada por várias vezes, quer na imprensa local até à imprensa nacional, se bem que algumas manipulações da opinião pública têm passado.
Em vez de se apostar nas pessoas e no património, constrói-se parques que de pouco serve a quem pouco tem, obras para quando chegarem as eleições se dizer que se tem trabalho feito, mesmo que este valha de pouco ou nada em termos de desenvolvimento territorial.
Curiosamente a escassos metros daquele parque, foi feita uma obra ilegal, em plena Reserva Ecológica Nacional, com autorização do autarca local, algo que foi denunciado há 3 anos, mas que curiosamente não deu em nada, porque será?
Na foto abaixo dá para ver claramente o que falo, onde existia um terreno com boas aptidões agrícolas, agora existe um espaço nada funcional, que custou caro e que serve apenas para questões eleitorais, quando às necessidades básicas da freguesia, pouco se tem visto. Querer impor ideias absurdas, erróneas e desenquadradas como esta, têm tornado o concelho de Alvaiázere um território desvirtuado, onde apenas os lóbis do betão ganham alguma coisa.
O cidadão, por seu lado, infelizmente pouco alfabetizado, vai sendo iludido com projectos que não garantem um futuro, pelo contrário adiam o mesmo, pois em vez de se elaborar projectos de base, desperdiça-se dinheiro com ideias snobistas e desajustadas às especificidades locais.
A apenas 2 km deste local, existe uma ponte medieval, a qual está votada ao abandono e desprezo, mesmo sendo conhecida pelas entidades oficiais, isto mostra o equívoco que este parque urbano, em meio rural, é. Há muitos mais exemplos de património desprezado neste freguesia, e em vez de se potenciar e preservar o mesmo, deixa-se de lado para criar projectos que além de não aproveitarem estes mesmos recursos, afectam as riquezas naturais da freguesia, caso da zona ribeirinha. Ideias inovadoras e acertadas é coisa raríssima por Alvaiázere, cultiva-se apenas a aparência e a personalidade.
Pelo que vejo, aquele parque urbano poderá ser um bom sítio para colocar gado a pastar, pelo menos não se perde tudo.
Daqui a alguns anos, Alvaiázere será conhecido como um território que será basicamente um recreio para gente rica se vir divertir à grande e à francesa, nem que para isso se esteja a desvirtuar um território até então ímpar...

Fonte: C.M. Alvaiázere

16.5.11

As obras na envolvência do Castelo de Pombal



Pois é, venho então falar de algo que prometi há semanas atrás, a questão do Castelo de Pombal, mais precisamente sobre as obras na sua envolvência, pois do Castelo em si mesmo haverá mais para referenciar daqui a algumas semanas.
Antes de começar, queria agradecer a uma leitora do azinheiragate, a qual me facultou algumas fotografias. Por motivos óbvios não vou identificar a leitora, pois pretendo evitar que haja quaisquer tipo de represálias sobre todo e qualquer um dos leitores do azinheiragate, infelizmente a cidadania activa não é bem vista por alguns autarcas da região de Sicó, por isso mesmo sou eu a dar a cara.
Um dos objectivos deste blog é interagir com os cidadãos que se interessam pela temática do património, seja ele natural, construído ou outro, este é um bom exemplo disso mesmo.
Inicio então com aquele belo caixote de betão que vêm na foto inicial, no comentário que fiz há algumas semanas sobre as obras de regeneração em Pombal, salientei que o betão tem sido uma prioridade deste executivo, este é um exemplo, pela negativa, disso mesmo. Penso que será uma questão de tempo até aquele caixote de betão servir como urinol, dada a protecção do mesmo face à chuva e não só.
Será que este caixote de betão se enquadra de alguma forma com o Castelo de Pombal? Claramente não, por isso não compreendo a razão de tamanho erro. A obra era necessária, mas a forma como foi pensada é que deixa muito a desejar.


Sigo então com algo que já referi aquando a nota sobre a Ponte D. Maria, a inclusão de materiais estranhos à região. Além de não compreender, lamento profundamente que se insista em utilizar o granito desta forma na região de Sicó, o carso merecia mais. Quando deveríamos estar a seguir uma linha  que sublinhasse e enfatizasse (passe o pleonasmo) as particularidades da região de Sicó, criando as aldeias do carso (marca turística) e apostando na utilização e racionalização de materiais como o calcário, contrata-se técnicos que têm a ideia absurda e irracional ir buscar granito. Sabendo que há profissionais e profissionais, este é um caso em que quem fez o projecto esqueceu-se de algo tão básico como apostar nos materiais da região, os quais se integram na perfeição em qualquer tipo de projecto. Quem elaborou o projecto, quanto a mim, não mostrou a competência necessária para um projecto deste tipo, pois a escolha dos materiais e respectivo enquadramento é um factor essencial. Ao invés, fez-se um projecto que desvirtua a envolvência do Castelo de Pombal e desprestigia a região, é a minha humilde opinião.
Pessoalmente considero de muito mau gosto os bancos de granito que vêm na segunda foto.
Passando agora aquela escadaria que vêm na terceira foto, mais uma vez há aqui qualquer coisa que foi desvirtuada, betão para cima, mais materiais estranhos e uns candeeiros dignos de qualquer local, que não a envolvência do Castelo de Pombal. É incrível como é que em tantos projectos na região de Sicó se consegue ver tamanho erro, será que estes candeeiros se enquadram naquela área em especial?!


A equipe que elaborou este projecto claramente está desenquadrada em termos de enquadramento do projecto, pois não teve em conta aspectos essenciais, tais como o ajuste do mesmo às particularidades, nomeadamente de este se situar na envolvência de um Castelo. Elaborar projectos entre quatro paredes tem destas coisas, claramente faltou o trabalho de campo e o "simples" falar com as pessoas,  nomeadamente com os pombalenses (não com aquelas pessoas que muitas vezes são convenientemente indicadas pelos autarcas...). Faltou também o estudar-se a história de Pombal e do Castelo, além disso nem sequer compreendo como é que o IGESPAR deixa uma coisa destas acontecer. Esta última entidade deveria, quanto a mim, ter impedido esta obra, tal como ficou, fazendo pressão para que não se concretizasse.
O projecto deveria ter sim sido pensado tendo como base a engenharia verde, a qual evitaria o betão, o granito e possibilitaria a inclusão de materiais que não iriam chocar com as especificidades da área.
Dos muitos castelos que já visitei, dentro e fora do país, nunca vi algo de tamanho mau gosto, algo que lamento profundamente. Podia ter-se utilizado calcário, madeira e similares, que assim ter-se-ia algo bonito, enquadrado e funcional, mas tem-se apenas o feio, desenquadrado e nada funcional.
Além disto tudo, basta subir a escadaria para notar que à parte das obras em si, tudo foi esquecido, ao lado das escadas é um ervado imenso, vê-se bancos esquecidos e partidos, etc, etc. Projectos chave na mão têm destas coisas.
Não teria sido correcto um diálogo com cidadãos e historiadores, de forma a se pensar um projecto racional? Claramente sim, mas infelizmente isso não aconteceu, perdendo o património e a região de Sicó.
Aquela escadaria aberrante teria sim ficado bonita e enquadrada se, por exemplo tivesse sido construída com base num material perfeito, a madeira. Teria sido possível fazer algo bastante prático e duradouro se se tivesse equacionado esta possibilidade, pois hoje em dia é possível fazer isto mesmo, daí eu ter dado o exemplo o exemplo da engenharia natural, no entanto optou-se pelo mais fácil, o que resultou num projecto que, quanto a mim foi um erro monumental, a juntar a muitos outros ocorridos em Pombal.
Para quem quiser saber mais sobre engenharia natural, fica um link importante:
http://www.apena.pt/

11.5.11

As vistas sobre Ansião...


Foi há vários anos que denunciei esta situação à SEPNA, nessa altura pensei que a situação se iria resolver, já que era demasiado grave para passar em branco. Sabia que poderia demorar o seu tempo e até fiquei plenamente convencido quando a CAVICAN surgiu.
Fiquei revoltado quando uma força política, meses mais tarde de eu ter denunciado o caso, pegou nisto, dizendo que tinham sido eles que tinham denunciado, aproveitando isto como arma política, algo que não se compreende, já que sabiam da situação há muito tempo, mas nunca tinham feito nada, só depois de eu me ter mexido é que pegaram em algo que sabiam que lhes dava visibilidade.
O que vêm na foto, já foi denunciado igualmente pelo sicodenuncia (movimento cívico criado há poucas semanas no facebook), é basicamente um local, com vista sobre Ansião, onde um aviário de galinhas poedeiras despeja livremente os dejectos decorrentes da sua actividade. Isto já por si é grave, mas o facto de se localizar numa cabeceira de um curso de água, amplifica o problema. Para terem uma ideia da área em que despejam dejectos, esta ultrapassa os 3000 metros quadrados...
Para piorar, este curso de água vai abastecer um aquífero, situado no lugar dos Olhos de Água, Ansião, precisamente o aquífero que abasteceu a Vila de Ansião até há alguns anos atrás e que deveria ser uma reserva estratégica de água. Neste momento caminha para uma situação de poluição que se poderá prolongar por muitos anos, inviabilizando o aproveitamento da água potável durante muitas décadas...
As entidades públicas sabem, a população sabe, mas ninguém faz nada, apenas se cobre de terra de vez em quando, de forma a não chocar a vista das poucas pessoas que passam pelo Casal, e disfarçar o cheiro no verão. Basicamente é como saber de um crime grave e não fazer nada para o resolver, é o deixa andar típico do tuga.
Com o fecho da CAVICAN, há muitos meses atrás, não vejo que o problema seja para resolver nos próximos anos, enquanto isso uma reserva estratégica de dezenas ou centenas de milhares de metros cúbicos (a extensão total do aquífero é desconhecida até agora, dada a sua dimensão) está a morrer lentamente. Estou para ver, daqui a uns anos, quando a água começar a escassear a sério qual a justificação que as entidades públicas vão ter para este desprezo deste recurso inigualável. Estou igualmente para ver qual a justificação que muitos pais vão ter para os filhos, quando este lhes perguntarem porque não cuidaram de um recurso imprescindível para eles, filhos e netos.
Vamos ficar parados enquanto isto se prolonga? A falta de informação não é desculpa! Cidadania activa exige-se a todos! A desculpa que isto não é um problema de todos nós não é válida, é apenas mais uma má desculpa, daquelas que levou à situação actual do país!

7.5.11

Vender ou potenciar o património, eis a questão!



Um ano depois volto a falar especificamente sobre a bela da oliveira, esta árvore notável que felizmente ainda se vai vendo pela região de Sicó. Abordo esta questão para mostrar um ponto de vista que interessa salientar.
As oliveiras representam uma riqueza subvalorizada na região de Sicó, outrora já foi um recurso que trouxe muitas mais valias à região, lembro-me de a Al-Baiaz me informar que apenas num dos concelhos da região de Sicó já terem existido, em tempos, cerca de 60 lagares. Já vivi bem perto de um lagar e brinquei bastante dentro de um abandonado, lembro-me ainda de quando ele funcionava e largava aquelas águas pouco amigas do ambiente, ou, pela positiva, daquele cheirinho quando a azeitona era prensada. Lembro-me também de, em miúdo, ter de ir à azeitona, levando a bucha (como se dizia antigamente) e ficar com os dedos gelados de apanhar tanta azeitona do chão. Bons hábitos que se perdem, algo que lamento profundamente, pois quem perde somos nós!
Os tempos mudaram e muitos lagares fecharam, as pessoas desinteressaram-se pelo campo e chegou-se ao cúmulo de vender este património ao desbarato (embora os intermediários tenham feito fortunas com a ignorância de quem vendeu muito deste património), como aliás a foto mostra, oliveiras à espera de serem vendidas para algum jardim abastado por essa Europa fora.
Apesar de considerar que em alguns aspectos não haja muito a fazer, há sim muito a fazer noutros, de forma a rentabilizar e potenciar este recurso fabuloso. Outro dia, aqui num pequeno supermercado no Brasil, vi umas pequenas embalagens, em metal, de azeite made in Portugal e fiquei contente por isso mesmo.
Não compreendo como é que sendo um recurso bastante interessante de potenciar, seja derivado da exploração dos olivais, seja pela promoção turística que se pode retirar dos mesmos, este continue em declínio na região de Sicó. Por um lado as entidades oficiais espalham a sete ventos que temos uma região diferente das outras, por outro nada fazem para manter estas características que nos tornam uma região única. Promove-se sim a homogeneidade e há demasiados aspectos que comprovam isso mesmo.
Sei que é difícil contrariar o estado actual das coisas na região, especialmente tendo em conta a fraca qualidade e competência duvidosa da grande maioria dos autarcas, no entanto estarei aqui sempre para tentar de alguma forma reverter um processo que, quando a mim, a seu tempo, irá mostrar que o caminho que estamos a tomar é completamente errado. 
Há que preservar, proteger e potenciar de forma sustentada todo este património da região de Sicó. A crise que nos assola já mostrou a muitos que o património é sustento, vejam a bela da horta onde podem plantar muitos produtos hortículas! Havia muitas pessoas que diziam que mais valia comprar tudo, mas que agora já voltaram à bela da terra...
Dou, para já, uma sugestão, a qual já vi felizmente em prática na região de Sicó, penso que em 2010. Quem tiver um olival e não tiver pessoas para ajudarem, quando for a apanha da azeitona, coloquem um anúncio da internet que vão ver que isso pode trazer muitas pessoas, por exemplo das cidades, que até pagam para poderem ter uma experiência diferente, num convívio a salutar. Deixem de lado as autarquias que não se mostrem disponíveis para ajudar e metam mãos à obra, pois vão ver que vale mesmo a pena e a região agradece!