15.4.11

A forma mesquinha de ver a região de Sicó



Numa altura difícil para o país, algo que só foi possível devido à nossa mentalidade passiva (há que o dizer com frontalidade!), do deixa andar, trago à discussão uma questão que me incomoda bastante, devido sobretudo à sua mesquinhez. 
Uma das coisas que nunca compreendi é a razão de algumas pessoas terem uma mentalidade que, na minha opinião, deixa muito a desejar, relativamente ao sentido de posse de um terreno. É comum aqui na região de Sicó, acontecerem inclusive conflitos, com resultados por vezes trágicos, em que o que está em causa o limite de um terreno, ou então a "violação" de um terreno alheio.
Antes de iniciar a discussão propriamente dita, refiro que o que está em causa não é a posse do terreno, mas sim a forma mesquinha como muitas pessoas a vêm, tipo quero, posso e mando. Há pessoas que pensam que por serem donas de um terreno podem fazer o que bem lhes dá na real gana, precisamente devido ao sentido exacerbado da posse do mesmo. Pessoas que não têm a capacidade de considerar que é normal as pessoas usufruírem, obviamente no bom sentido, de toda uma região, de considerar que não há mal nenhum uma pessoa ir querer dar um passeio e gostar de passar em terrenos onde não irá incomodar ninguém ou estragar alguma coisa que seja, apenas e só usufruir da beleza natural. 
Eu não tenho terrenos, mas se os tivesse colocaria uma placa a dizer genericamente que todo e qualquer cidadão poderia passar a pé pelo terreno (quiçá para fazer um pic-nic, ver a passarada e tudo o mais), estando excluídos os caçadores, os quais estariam proibidos de o fazer. Além disso nunca faria o que vocês podem ver na foto, num terreno longe de tudo, construir um muro, aberrante, de blocos, o qual além de interferir com processos naturais e vida animal, é uma obra que mostra uma tal iliteracia cultural que nunca irei compreender, por mais esforço que faça.
Pessoalmente considero que não deveria ser permitido fazer um muro destes, das duas uma, ou em pedra e da forma antiga (pedra solta), ou então com estacas de madeira espaçadas. Esta última opção seria a mais sábia, já que não causaria dano aos vários processos naturais que, a várias escalas temporais e espaciais, ocorrem na área em análise, e também resolveria a mesquinhez de não querer que alguém entrasse na propriedade, sendo assim um mal menor. 
Países como a Noruega estão bem avançados neste matéria, pois pode entrar-se livremente em qualquer terreno, bastando respeitar os valores nele presente, ou seja andar mas não estragar. Tive o privilégio de lá ir em 2006 e sentir isso mesmo, cheguei mesmo a entrar em terrenos onde andava gado e apenas tive de voltar a fechar a cerca depois de entrar, simples, não?! Não tive receio de que aparecesse alguém com uma espingarda na mão a dizer que não poderia estar a passar por ali, como já aconteceu aqui na região de Sicó, é algo que só daqui a algumas gerações poderá ser invertido, a nosso bem e a bem da região.
Pode parecer uma questão simples, mas afinal é bem mais profunda do que se possa pensar, estando enraizada nas mentalidades de muitos de nós ou de nossos conhecidos. Brevemente irei falar sobre a questão do cadastro predial, esse belo pesadelo territorial que só existe derivado precisamente da forma mesquinha como ainda se vê o território.
Urge reflectir sobre isto, pois a paisagem da região de Sicó anda a ser adulterada por situações como esta, resta saber se vamos aceitar passivamente a degradação de uma paisagem cultural como é a paisagem da região de Sicó...

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