26.2.11

Sicócartoon: o polvo


Depois de algumas semanas "de folga" por motivos logístico, o sicócartoon retoma a sua actividade normal e regular. E que forma fantástica de "SC" voltar em força!

21.2.11

Os "poços de carapuça" de Sicó



De forma a amplificar, em termos de divulgação, a questão dos "poços" na temática do património da região de Sicó, destaco agora os "poços de carapuça".
São mais um de muitos elementos patrimoniais da região de Sicó que importa conhecer. São poucas as pessoas que sabem onde podem encontrar estes belos poços, felizmente conheço alguns. Já conhecia estes dois "poços de carapuça" antes de conhecer uma investigadora que tratava-os por este último nome, facto que até 2006 desconhecia. 
Aproveito para referenciar a investigadora que também se dedica à temática do património da região de Sicó, minha conhecida. Maria José de Guanilho Duarte dedica-se já há alguns anos à investigação sócio-antrolopológica do sector Sul da região de Sicó, a qual tem resultado em alguns artigos deveras interessantes. Apresentou alguns destes resultados em dois congressos nos quais também estive presente, no Simpósio Ibero-Americano - Património Geológico, Arqueológico e Mineiro em regiões Cársicas (Batalha, 2007) e no IV Congresso Nacional de Geomorfologia (Braga, 2008). A seu tempo tenho a esperança de também o trabalho desta investigadora tenha reconhecimento pelo comum cidadão da região de Sicó.
Voltando aos "poços de carapuça", estes têm várias particularidades, pois não é só a carapuça que os torna diferentes do vulgar poço. Para demonstrar estas mesmas particularidades, nada melhor do que um excerto do artigo de Guanilho Duarte (2007), presente nas actas do Simpósio Ibero-Americano:

"Estas cisternas eram escavadas no chão, à semelhança de um poço, forradas a pedra e depois rebocadas interiormente com uma argamassa muito particular e que era composta por areia, cal e uma pequena quantidade de azeite, reforçando assim a impermeabilidade das paredes da cisterna. As "carapuças" dessas cisternas, em forma de abóbada, eram feitas no chamado "tijolo de burro", com a mesma técnica de fazer um forno de cozer o pão. Nestas construções a união do tijolo era feita com argila. Depois a carapuça feita era coberta com a mesma argamassa usada para seu reboco interior ou apenas com barro.
Estas "carapuças" tinham a função de manter a água arejada, fresca e potável, durante os verões quentes desta região. Outras há que tinham, também, pequenos orifícios à volta, reforçando o arejamento, em que o próprio terreno, onde estava implantada a cisterna, ditava essa necessidade de maior ou menor circulação de ar. Esses orifícios (tapados com rede) facilitavam ainda mais a circulação do ar e impediam que animais ou impurezas caíssem para dentro de água. Estas cisternas têm na "carapuça" uma pequena abertura lateral por onde as pessoas tiravam a água, e que estava tapada por uma janela de madeira.
Junto à cisterna havia sempre três pias individuais escavadas na pedra: uma para os animais beberem água, outra para fazer o sulfato para curar as vinhas e ainda outra associada a uma laje onde as mulheres de casa lavavam, esfregavam e batiam a roupa."

Interessante, no mínimo, não acham? Pena é que os autarcas da região de Sicó não dêem real valor a este património. É este mesmo património que tento preservar, através da divulgação e promoção do mesmo. Se o cidadão não conhece como pode ele querer preservar?!
E se pensam que não há mais tipologias de poços.... desenganem-se, pois há mais. No entanto, e para já destaco mais esta tipologia, daqui a mais algum tempo voltarei a abordar esta topologia de elementos patrimoniais. É um tema que interessa a quem cá vive e aos que não vivem cá, seja noutras regiões do país ou noutros países, caso do Brasil (segundo país com maior número de visitantes) e dos Estados Unidos (terceiro no ranking!).
É por este património que temos de lutar, mesmo que cause alguma azia a quem o deveria proteger, valorizar e divulgar, quando não o faz... 


17.2.11

A magia do património que se perde....


A perda de património é algo com o qual nunca me conformei, seja ele património natural, construído ou outro mais, por isso mesmo é que teimo em lhe dar lugar de destaque no azinheiragate.
A imensidão de elementos patrimoniais na região de Sicó é realmente fabulosa, mas infelizmente o património não é prioridade para os que nos governam, pois estes estão demasiado ocupados a pensar em estradas, betão e em planos que secundarizam questões essenciais como é a temática do património. É este mesmo património que nos torna diferentes no bom sentido, é esse mesmo património que poderia ter-se tornado há vários anos um vector estratégico de desenvolvimento e identidade territorial. Importa referir que quando digo que poderia ser um vector de desenvolvimento, não o seria no sentido de desvirtuar a identidade para agradar a quem nos visitasse, pois costuma-se ver muita fantochada neste domínio...
As fotos que aqui trago são de um poço diferente do que a maioria de vós está habituado a ver. Apesar de estar no estado em que está, poderia ser recuperado. Tinha um telhado a cobrir e umas escadas para descer ao mesmo. Existem muito poucos na região de Sicó, só mesmo quem anda batido no terreno sabe onde encontrar alguns destes belos elementos patrimoniais.
Como este, há muitos outros elementos patrimoniais que estão como estão, esquecidos e pior de tudo, em ruínas. Estes elementos, reunidos em roteiros e integrados em estratégias próprias, poderiam representar mais valias, no entanto isto não dá votos e enquanto nós não exigirmos que se preserve estes elementos da identidade regional, nada feito. Pensem nisto!
Pior do que tudo é quando tentamos proteger algum deste património, por vezes, ainda alguém que tem interesses financeiros na área nos tenta tramar, já que a valorização deste património poderia colocar em risco certas estratégias, não de desenvolvimento mas sim de esvaziamento em benefício próprio. Assim a identidade regional vai-se esvaindo...

11.2.11

Sicó: uma paisagem cultural nas ruas da amargura


É um tema tanto belo como complexo de debater. Vou tentar começar pelo mais óbvio, a definição de paisagem cultural:

Paisagem cultural:

"Áreas, constituindo espaços suficientemente característicos para serem objecto de uma delimitação topográfica, nas quais existem simultaneamente elementos do património cultural e do património natural, com valor excepcional do ponto da vista da história, da ciência, da estética, da tecnologia, da antropologia, da conservação ou beleza natural."

Fonte: Categoria do Património Mundial, criada em 1992 – UNESCO

Associar a região de Sicó à noção de "Paisagem Cultural" é algo que eu considero perfeitamente natural e sobretudo fundamental, pois Sicó é efectivamente uma paisagem cultural. Para mim, enquanto cidadão e geógrafo que sou, é uma  paisagem cultural de grande relevância no contexto nacional, dada a intrínseca ligação do povo ao seu território ao longo de vários séculos, moldando-o de uma forma peculiar. Desta ligação resultaram elementos culturais fantásticos. Temos um património natural extraordinário, temos uma história não menos extraordinária, mas não temos quem reconheça isto mesmo de forma concreta e efectiva.
Tenho sinceramente pena que quem nos governa não tenha dado até agora efectiva importância à paisagem cultural de Sicó, pois esta paisagem é, ainda, um recurso notável. Se calhar não lhe dão importância porque isso mexe com as suas protegidas pedreiras, eólicas e muito mais...
Envergonha-me que um autarca aqui da região, um dia me tenha dito que só cá vinha quem nunca tinha saído daqui. Foi uma afirmação que na altura me chocou pela sua leviandade e ignobilidade, mais tarde compreendi o porquê...
Para quem, como eu, já teve a felicidade de conhecer 14 países em 5 anos e já viu muitos locais e culturas extraordinárias (a grande maioria através de viagens de trabalho), consegue aperceber-se que Sicó é um tesourinho que ainda vai resistindo. Sicó é linda e não deixem denegrir esta bela região, pois caso o façam estão apenas a "dar o ouro ao bandido". 
Infelizmente a paisagem cultural de Sicó tem sido desvirtuada por interesses predatórios e ignóbeis, mas mesmo assim esta mesma paisagem persiste! Está fragmentada mas ainda subsiste, faço questão em sublinhar isto.
A foto que vêm mais acima é apenas uma das muitas formas que se podem salientar quando falamos em paisagem cultural. Muitos dos mais velhos reconhecem facilmente aqueles pequenos muros de suporte, os quais estão implantados em vertentes declivosas onde alguém um dia se lembrou de plantar a bela da oliveira, moldando assim a paisagem.
Como sugestão, apelo a todo/as aquele/as que não costumam ir ao topo da serra (ou colina...) que um destes dias ganhem coragem para deixar os chinelos em casa e em vez de irem para o café, vão dar um belo passeio para desfrutar a paisagem cultural de Sicó. Garanto-vos que vão ter muitas surpresas!
Para aqueles já que já o fazem, como eu, há muito tempo, continuem, pois o reconhecimento desta região  consegue-se, entre outros, com o nosso know-how e com a partilha das nossas experiências de vida nesta região, a qual nos moldou o carácter no bom sentido, fazendo de nós melhores pessoas. 
Voltarei a esta questão em breve, pois há muito, mas muito mais para falar e debater sobre a paisagem cultura de Sicó. Há que picar as mentalidades a ver se elas acordam...

7.2.11

Azinheiragate recomenda:


É uma das últimas aquisições da minha biblioteca pessoal, sendo um investimento que faço questão em manter. Não escondo o orgulho que é ter uma biblioteca própria, é um vício saudável e muito útil! 
Desta vez destaco um livro que descobri há poucos dias por mero acaso numa livraria conhecida, felizmente deparei-me com esta obra, a qual vale a pena reter. Já a comecei a ler nas viagens de comboio semanais e já deu para confirmar que é algo de qualidade com conteúdos sobre os quais o azinheiragate se centra. Centra-se sobre temas estruturantes que eu gosto particularmente, o turismo cultural, territórios e identidades. Além disso tem alguns conteúdos relativos à região de Sicó, juntando o útil ao agradável.
Os meus parabéns ao Instituto Politécnico de Leiria (e aos investigadores que contribuiram) por este belo contributo em prol do nosso património.