23.12.10

Os votos do azinheiragate e do Sicócartoon



Mais um ano que passa, mais um ano de partilha de conhecimentos e de amizades. Foi mais um ano especial, em que investi seriamente na defesa do património da região de Sicó e que fiquei a conhecer mais pessoas que partilham do espírito do azinheiragate. Foi sem dúvida um privilégio tudo isto e muito mais.
A região de Sicó é mais conhecida pelos 4 cantos do mundo e é uma honra poder participar na divulgação das riquezas e valores vários que ainda se vão aguentando num mundo em que quem manda são as aparências, a ganância e a corrupção.
Foi também um ano em que se iniciou um projecto muito especial, o Sicócartoon, que também deseja boas festas! Iniciou-se também um outro projecto que surgirá no primeiro semestre de 2011 e que vai mostrar que se consegue fazer muito com pouco, que as soluções mais simples e baratas são efectivamente as melhores para o desenvolvimento da região de Sicó, conseguindo-se também fazer marketing territorial de uma forma soberba (vão ver...).
Foi um ano de vitórias e derrotas, aprendi com ambas e continuarei a ser uma pedra no sapato da gente corrupta que pensa que quer, pode e manda, quando afinal mostrei que por vezes não podem e por vezes não mandam...
Mais um ano em que tive o privilégio de viajar e com isso aprender mais e melhor, algo que nunca prescindirei havendo saúde. Nunca ninguém poderá afirmar que já sabe tudo, pois estamos sempre a aprender, por mais que alguns pseudo-intelectuais digam que sabem tudo.
Podia dizer muito mais, mas fico-me por aqui desejando que 2011 seja um ano feliz para todos vós e lembrem-se que o mais importante é a saúde, com ela fazem tudo e sem ela não fazem nada!

20.12.10

O que é que eles me queriam fazer? Intimidar?!

As ameaças já são um infeliz hábito para aqueles, como eu, que além de não se venderem, protegem de forma honesta construtiva e legal o património da região de Sicó. São factos com os quais já estou perfeitamente habituado a lidar, portanto tenho os meus cuidados, as minhas defesas e a minha intuição quando, por exemplo, vou à Serra de Alvaiázere monitorizar o processo do parque eólico. É algo que já faço muito antes daquele parque eólico ter sido começado e é algo que irei continuar a fazer, já que daqui a dois ou três anos irei reavaliar o património geomorfológico que ali estudei entre 2005 e 2008 (tendo no entanto continuado a investigação tendo em vista a monitorização durante alguns anos, algo que causa uma enorme azia a determinadas pessoas...).
Neste último fim de semana voltei novamente à Serra e passou-se um episódio que já se começa a parecer com episódios semelhantes aqueles que se passam em países como o Brasil, onde quem defende a Amazónia contra a extracção e comércio ilegal de madeira é alvo de ameaças, que por vezes terminam com episódios de agressão ou pior....
Como sei que aquele território é um território que alguns tornam perigoso para mim tenho uma estratégia própria quando lá vou, obviamente não a vou divulgar. Vou "somente" descrever o que se passou nesta última vez, algo que mostra que muito vai mal por aqueles lados....
Cheguei ao topo da Serra e o que me pareceu o vigia do parque eólico (já o vi muitas vezes) estava à entrada da estrada de acesso do respectivo parque eólico, tendo eu passado por ele.
Chegado ao largo do posto de vigia, mesmo ao lado do vértice geodésico (618m) estacionei. Fui tirar as necessárias fotos para documentar o trabalho de investigação que desenvolvo naquela área, tudo dentro da legalidade, da honestidade e da ética que deve guiar qualquer investigador. Quando estava prestes a chegar ao topo da Serra, 20 minutos depois de ter lá chegado, notei que o vigia deslocou-se, na sua viatura, até ao largo onde eu tinha estacionado o meu veículo, algo que me intrigou bastante. O indivíduo não notou que passou a escassos metros de mim.
Chegado ao meu veículo, coloquei-o em andamento e comecei a descer a Serra, tendo notado que o vigia já não estava no seu local normal de vigia, tendo o mesmo colocado uma pequena protecção a sinalizar o fecho da estrada do parque eólico (quando por lá passei estava aberta).
Não vi mais este vigia, não sabendo para onde foi e nem sequer quero tirar ilações. Já a descer a serra, parei num miradouro, já que andava por ali um praticante de parapente e eu como adoro ver fui tirar umas belas fotografias. Tinham-se passado 5 minutos desde que eu tinha saído do largo no topo da Serra.
Apenas 3 minutos depois vejo um jipe a subir a Serra, o qual ao chegar ao miradouro, onde eu estava, abrandou, tendo os 4 ocupantes olhado para mim fixamente. Um deles era um indivíduo de grande porte e barba por fazer (eu por vezes também a tenho por fazer).
Passados por mim, e depois de olharem intensamente para mim, seguiram até ao topo da Serra, onde foram apenas virar, já que 5 minutos depois já estavam de volta, tendo passado por mim (eu já estava mais a baixo a tirar mais fotos).
O jipe era um Land Rover verde, de primeira geração.
Depois deste episódio fiquei a pensar, será que sou tão importante para merecer uma visita de cortesia de 4 pessoas? Será que queriam falar comigo? Porque olharam tão incessantemente para mim? Assustaram-se com o que eu tinha vestido? Terá sido uma mera coincidência este encadeamento de acontecimentos desde que cheguei ao topo da Serra naquele dia? Será que sou eu a ver coisas?
Não vou comentar, vou sim deixar essa tarefa para aqueles que conhecem a situação....
Para finalizar, soube hoje algo que pessoalmente me satisfaz, algo que mostra que o país apesar de estar na situação actual, onde quase tudo é permitido e de forma desordenada (mesmo que ilegal), um facto que mostra que vale a pena "lutar" pelo património da região de Sicó. O parque eólico de Ariques foi CHUMBADO!!!!! É este acreditar, mesmo que parcial, que me move, nem tudo está perdido... Viva o património natural e cultural da região de Sicó!

16.12.10

As galinhas e tudo o resto....


Á primeira vista se calhar alguns de vós pensarão que eu tenho um parafuso a menos por estar a mostrar uma foto de galinhas num dos meus comentários, no entanto no final do comentário ficarão não só esclarecidos, bem como elucidados sobre um problema complexo, mas fácil de resolver...
A sociedade em que vivemos complica, por vezes, casos que até são de simples resolução, por isso mesmo e por muito mais decidi falar desta questão aqui neste nosso espaço de partilha de conhecimento.
Os restos de comida representam uma fatia significativa no volume total de resíduos que infelizmente teima e ocupar espaço, hoje em dia em locais pomposamente denominados por aterros. Há pessoas que pensam que este não é um problema delas, nem mesmo um problema da região de Sicó, mas especialmente para essas pessoas dedico este comentário de reflexão.
Quando muitos de nós colocamos para o lixo restos de comida estamos a criar um problema. Isto porque tem de vir um camião buscar esse mesmo lixo, tendo-o de levar para um ecocentro, local onde é comprimido e levado por outro camião para um aterro. Isto, quanto a mim, é um puro desperdício de dinheiro e tempo, já que este processo custa tempo e dinheiro.
Felizmente que na região de Sicó há pessoas que fazem como eu, que evitam todo este processo dispendioso e perfeitamente evitável. Obviamente que há pessoas que estão limitadas neste aspecto porque vivem em apartamentos, mas havendo consciencialização e vontade por parte de cidadãos e entidades este problema pode ser em grande parte erradicado, ganhando-se com isso em toda a linha (economia, ambiente, cidadãos, etc).
Um exemplo nacional desta problemática ocorreu há poucos anos nos Açores, onde devido à exiguidade do espaço físico dos aterros, resolveu-se criar uma rede de compostagem de restos de comida/orgânicos. Esta simples ideia prolongou em dois anos o tempo de vida dos aterros. Sei que um aterro é sempre problemático, mas dou apenas o exemplo para ilustrar um raciocínio do quanto positivo pode ser uma ideia...
Indo a exemplos externos, falo de uma notável ideia que aconteceu há poucos meses na Bélgica, um município ofereceu galinhas (vivas) às pessoas, de forma a elas terem na sua hortazinha estas belas destruidoras de restos de comida. Mitiga-se assim um grave problema com uma solução muito simples.
Penso que a crise, à parte de algumas questões problemáticas que não são do âmbito do azinheiragate, vem apenas dar uma ajuda na educação/reeducação da sociedade sobre estes e outros aspectos. São factos que mostram que ser-se ambientalista não é preocupar-se com o ambiente, é sim preocupar-se com tudo aquilo que nos rodeia e que nos sustenta!
Na região de Sicó há ainda muitas pessoas que fazem como eu, têm as belas galinhas que resolvem problemas e dão o belo do ovo. Infelizmente, e na minha faixa etária, são cada vez menos....
Para finalizar dou um exemplo prático que coloquei em acção numa entidade aqui da região de Sicó. A partir de 2009 houve a possibilidade de recolher restos de comida, os quais decorriam do seu normal funcionamento (semestral) e do movimento de algumas pessoas (em média 12). Em apenas 6 meses recolhi mais de 200kg de restos de comida que foram integralmente trucidados por algumas galinhas. Ganhei porque arranjei um complemento alimentar para as galinhas, ganhou a entidade porque demonstrou um apoio incondicional a uma questão séria, e ganhou a sociedade, já que não teve de dispender dos seus impostos para que estes mais de 200kg de resíduos fossem para um aterro.
Para quê ligar o complicómetro se podemos simplificar e ganhar em toda a linha?
Fica a nota de reflexão e fica também a ideia para que além dos particulares, as entidades da região de Sicó sigam este exemplo.

10.12.10

Um projecto retrógado que destrói a essência da região de Sicó


"Investimentos que empobrecem o património natural", foi um brilhante comentário que ouvi, pelo presidente do GECoRPA, num evento há semanas atrás. Foi na Gulbenkian e tratou-se de um colóquio sobre o impacto de infraestruturas sobre o património natural.
É uma frase que representa na perfeição o assunto que agora vos venho falar. É algo que algumas, poucas, pessoas já sabem, mas que a grande maioria de vós não sabe....
Infelizmente é mais um triste episódio que ocorre em Alvaiázere, este belo case study no que concerne a más práticas de ordenamento e gestão do território. Havendo hipótese de comprar um de dois edifícios antigos magníficos para recuperar e transformar num hotel, Paulo Morgado surgiu com uma ideia que, pessoalmente considero analfabeta do ponto de vista de cultural. Podendo recuperar um de dois edifícios de dimensão considerável (proximais à Serra), de forma a Alvaiázere ter um bom hotel, este autarca decidiu que seria bonito construir um hotel quase no topo da Serra de Alvaiázere, tendo mandado elaborar o projecto ainda em 2006. Isto é no mínimo estranho, já que em primeiro lugar a Serra de Alvaiázere era um ícone patrimonial, portanto o que teria lógica seria recuperar uma de duas quintas históricas e transformá-las num hotel fantástico com vista para a Serra, uma autêntica jóia da coroa. Em segundo lugar é estranho porque o PDM não contempla construção naquele local, tal como está planeado (não é do conhecimento público...), sabendo também que aquele local é área protegida e Reserva Ecológica Nacional.... Nunca se deveria construir naquela serra, é simples e não custa compreender.
Para adensar o mistério, em 2010 mandou para a comunicação social uma nota de imprensa a referir que já havia financiamento comunitário de 6 milhões de euros para este mesmo projecto, pensado para uma área protegida.... Já para não falar que o autarca local falava isto como facto consumado, algo que curiosamente até terá de ser alvo de Estudo de Impacte Ambiental. Disse também que falta apenas surgir um investidor para fechar o processo, talvez um antigo barão de algum partido político, escondido por detrás de alguma sociedade anónima?
Como é isto possível?! Eu sei a resposta, ela já está a ser dada a cada vez que este autarca está envolvido em polémicas, as quais já são bem conhecidas e demasiado frequentes por aqueles lados. São factos e não opiniões.
Para este autarca, os Instrumentos de Gestão Territorial (PDM; PP;PROT;etc) são algo que pode ser agilizado com vista à prossecução dos seus objectivos, e dos interesses predatórios associados ao mesmo, por mais negativos que estes sejam. A descaracterização de um território outrora muito belo é um facto deste que este autarca chegou ao poder.
Choca-me a impunidade que este autarca tem, isto na perspectiva que o mesmo já por várias vezes esteve envolvido em casos de clara violação do PDM, algo que num país de direito daria perda de mandato.
Só para finalizar, algo não menos importante. Para tentar agilizar o processo, este autarca anda a tentar alterar certos artigos do PDM para que as suas intenções possam seguir o seu rumo. Felizmente a população protestou no local próprio, mas não sei se valerá de muito, já que ali quase tudo se consegue fazer em termos de aprovação de projectos impossível em situação normal.
Nos próximos meses iremos ver o que se segue, para já fica a nota de reflexão....

6.12.10

Nos Caminhos de Santiago da região de Sicó

Este era um tema que já estava agendado há umas 3 semanas, mas agora é, talvez, a altura ideal para o fazer. Confesso que poderia ter falado deste assunto há mais tempo, mas como felizmente há tanta diversidade de temas para falar que, por vezes, vou adiando alguns.
Venho precisamente a chegar de uma problemática viagem (à Escócia), não vos vou falar dela, isso fica para um livro que, aos poucos ando a escrever sobre as minhas viagens nos tempos livres.
Tomei a decisão de falar hoje deste tema, precisamente há 3 semanas. Isto porque mais uma vez tive o privilégio de falar com viajantes que passavam pela região de Sicó, em busca dos Caminhos de Santiago. Desta vez eram duas sul-coreanas, facto que me fez reflectir ainda mais sobre como é possível termos também esta riqueza que é mais conhecida por viajantes longínquos do que por nós próprios:
Já falei com pessoas de várias nacionalidades, muitos europeus, americanos e sul-coreanas, entre outros. Pensei para mim próprio, o que levará alguém de tão longe vir a Portugal e passar pelos Caminhos de Santiago que atravessam a região de Sicó?!
Como geógrafo viajado sei o que leva estas pessoas a vir até cá, mas mesmo assim fico sempre positivamente surpreendido e ao mesmo tempo contente pelo reconhecimento da região. As viagens transformam-nos para melhor e aprendemos muito com aqueles que vivem por onde passamos. Absorver o ambiente, inalar os cheiros, sentir a rugosidade do terreno, apreciar as paisagens é algo que molda o nosso carácter e caso tenhamos capacidade de aprender, seremos melhores pessoas, isso vos garanto.
O que me leva a escrever este comentário, além de vos fazer reflectir que os Caminhos de Santiago são também um património da região de Sicó, é fazer-vos reflectir sobre algo muito simples. Porque é que as entidades regionais não estão conscientes da importância turística, cultural e económica que representa a vinda dos "Caminhantes de Santiago"? Porque é que não existe uma estratégia concreta de valorização deste recurso?
Uma estratégia passaria em primeiro lugar pela identificação do recurso, depois pela avaliação do mesmo e finalmente por uma estretégia de acção tendo em vista a valorização do recurso. A estratégia passaria não apenas pela divulgação que existe aqui o recurso "Caminho de Santiago" (é um erro comum que se teima em fazer por estes lados..), mas sim de reabilitação do eixo por onde passa o Caminho de Santiago. Os visitantes não querem ver casas que são iguais em todo o lado, querem sim ver a alma da região, habitantes locais, casas de pedra recuperadas, trilhos em condições (e não caminhos florestais que destroem antigos caminhos ancestrais) e tudo o resto. É algo de transversal à região que os actores de desenvolvimento regionais teimam em não compreender. Enquanto isso vai-se perdendo todo um património que depois de perdido não volta...
Lembrem-se que mesmo que por si próprio este recurso não seja uma "salvação", conjuntamente com milhares de recursos (património natural, cultural, etc) concerteza é um recurso valioso para definir uma estretégia concertada de desenvolvimento regional para a região de Sicó, é isso que nos tem faltado. Tem faltado não só pelo facto de termos tido até hoje autarcas e outros actores de desenvolvimento mal preparados, mas acima de tudo por nossa própria culpa, isto porque em tempo de eleições o que mais vulgarmente se pede a um autarca é que ele alcatroe o caminho à nossa porta e coloque uma manilha, é assim que infelizmente vendemos o nosso voto, seja ele para quem for.
Peçam património em vez de alcatrão e vão ver que as coisas mudam, pois enquanto assim não o fizerem, a região de Sicó e o país continuarão a ficar mais pobres, mesmo sendo uma região e um país riquíssimos em termos de património...
Um dia também farei os Caminhos de Santiago, isso vos posso assegurar haja saúde!